João Pessoa, 12 de agosto de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Dizem que de todas as manifestações artísticas, as artes plásticas – principalmente a pintura -, costuma ser a mais cara, do ponto de vista financeiro, pois já se noticiou a venda de quadros por cifras milionárias, valores que não se alcança em nenhuma turnê de um astro da música pop. Não se trata aqui de avaliar se alguma arte é superior a outra. Acredito que cada uma tem o seu valor, sentimental ou não ,e se nos emociona, nos impacta ou deixa perplexos, o objetivo foi alcançado.
Porém, a verdade é que a pintura é uma arte cara de se consumir. Poucos são os privilegiados que possuem em casa um Portinari, um Di Cavalcanti, um Alberto Lacet ou Flávio Tavares, só para ficar com os nacionais.
E não foi diferente com o nosso mais festejado escritor de todos os tempos. Dizem que o Bruxo do Cosme Velho ficou encantado com um quadro que estava exposto na vitrina de uma loja da Rua Ouvidor, no Rio de Janeiro. Tratava-se de um óleo sobre tela retratando uma bela dama ruiva. À época Machado de Assis não pode adquirir a obra pintada por um tal de Fontana. Percebendo o encantamento de Machado diante daquele quadro, um grupo de amigos decidiu comprá-lo para presentear o escritor.
Da vaquinha participaram os amigos Heitor de Basto Cordeiro; Ernesto Cibrão; Antonio da Rocha Miranda; Caetano Pinto; Joaquim Xavier da Silveira; Ferreira de Araújo e Horácio Guimarães. Ao receber o quadro, Machado em gratidão decidiu escrever um soneto para cada um dos amigos, que começava com o verso “A bela dama ruiva e descansada”, que chegou a ser transcrito por Ferreira de Araújo no jornal Gazeta de Notícias, edição de 18 de abril de 1895, intitulado Soneto Circular.
A escritora Francisca de Basto Cordeiro, que foi vizinha e frequentava a casa de Machado de Assis, assegura que o quadro ficou em lugar de destaque na casa da Rua do Cosme Velho, na sala de visita encimando o sofá. Registrou suas reminiscências no livro “Machado de Assis que eu vi”, publicado depois em segunda edição com o título “Machado de Assis na intimidade”.
O que intriga os pesquisadores e biógrafos de Machado é que até hoje não se sabe ao certo quem é o pintor Fontana. Alguns apostam que é o brasileiro Carlos Fontana; outros juram ser o italiano Ernesto Fontana, nascido em Lugano e uns atribuem a autoria do quadro ao milanês Roberto Fontana. Será que Machado sabia quem era realmente esse Fontana?
Sabendo ou não, Machado viveu feliz com a companhia em sua sala da dama ruiva e descansada, que por muito tempo – até a morte do escritor – pairou absoluta na casa da Rua do Cosme Velho.
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OPINIÃO - 22/11/2024