João Pessoa, 13 de setembro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O fuzil AK-47 que Osama bin Laden tinha em seu quarto quando foi morto em maio de 2011 no Paquistão pelos Seals, unidade de elite da Marinha dos Estados Unidos, estava dentro de um armário e sem munição na câmara. Uma pistola, também dentro do armário, estava ainda dentro do coldre.
A revelação de que o terrorista mais procurado do mundo foi morto sem reagir consta no livro “Não há dia fácil – um líder da tropa de elite americana conta como mataram Osama bin Laden”, publicado nos EUA em 11 de Setembro e que chega ao Brasil traduzido pela Editora Paralela.
Escrito por um ex-Seal que participou da operação sob o pseudônimo de Mark Owen, o livro revela ainda que a missão não era de assassinato: se tivesse a oportunidade, a tropa deveria capturá-lo vivo.
Um dos destaques da obra é revelar bastidores da preparação para a “Operação Lança de Netuno”, como foi denominada pelas Forças Armadas norte-americanas.
O Team 6 dos Seals, considerada a melhor unidade da Marinha, treinou por três semanas a invasão à casa onde Bin Laden vivia em Abbottabad, cidade na fronteira do Paquistão com o Afeganistão que abriga uma academia militar.
A casa era monitorada por aviões não tripulados e dois informantes que trabalhavam para Bin Laden e para os EUA com o objetivo de não deixar o terrorista fugir.
Em uma base na Carolina do Norte, a CIA, agência de inteligência norte-americana, construiu uma maquete da casa de Bin Laden em tamanho real. Os Seals tiveram que simular a operação para que o governo tivesse certeza que daria certo. Com a demora do presidente Barack Obama em dar o aval para que a ação fosse colocada em prática, houve temor de que a informação sobre a localização do autor dos ataques de 11 de Setembro vazasse. Os militares simplesmente não acreditavam que a ordem da Casa Branca viria.
O mote do livro – o momento da morte de Bin Laden – é, porém, o pior trecho: falta ação, e o autor não descreve como os militares o mataram, limitando-se a dizer que ouviu dois disparos feitos por fuzil com silenciador usado pelos Seals.
Owen disse ter sido o segundo homem da equipe a entrar no quarto de Bin Laden, encontrando-o no chão, ainda vivo, com uma marca de tiro no lado direito da cabeça. Ele fez alguns disparos, para que o terrorista morresse.
O soldado relembra ter tirado fotos e colhido amostras de sangue de Bin Laden. Mas foi uma criança – uma menina que estava no quarto – que confirmou: o corpo era o do terrorista mais procurado do mundo.
O autor peca em não explicar o porquê de, num grupo com 24 militares divididos em duas equipes, ele ter participado da ação secundária – a invasão da casa anexa, onde vivia o segurança de Bin Laden – e também do ataque à casa principal, onde o terrorista estava no terceiro andar. Após matar o segurança, o herói do livro entrou na residência e avançou junto com os companheiros.
Temor de acidente
Os momentos mais eletrizantes da caçada estão na chegada e na saída do Team 6 da residência em Abbottabad. Um helicóptero Black Hawk, que levava o grupo, sofreu uma pane e caiu no terreno.
O temor de morrer em um acidente aéreo sem cumprir a missão ou ser capturado pelo Exército do Paquistão rondou a cabeça dos soldados.
A retirada do grupo, carregando o corpo do terrorista, também foi corrida: com tempo cronometrado, explosivos foram colocados para destruir os destroços do helicóptero que não funcionava mais. Outra aeronave foi chamada para buscar a tropa, mas chegou com combustível contado.
Agente da CIA
Como em todo livro militar, uma mulher, loira, rouba a cena: uma agente da CIA foi a responsável por ter confirmado a localização de Bin Laden no Paquistão e por planejar a operação. Ela monitorava a casa e sabia todos os detalhes do dia a dia do terrorista, desde a especificação das fechaduras das portas, até onde estavam os seguranças e a que horas ele saía para caminhar no terreno ao lado da casa, onde o helicóptero dos Seals caiu.
No embarque para o Paquistão, junto com os Seals, Owen questionou a agente da CIA sobre qual a garantia de que Bin Laden estava lá. Diante da incredulidade do soldado, ela respondeu: “100% de certeza”.
Quando a tropa retornou da operação, com o corpo do terrorista, foi recebida pelo atual chefe das Forças Especiais dos EUA, almirante William McRaven. Segundo o Seal, o almirante quis ver o rosto do morto e ainda brincou com os soldados que se amontoavam ao redor, pedindo para um subordinado de 1,95 metro de altura se deitar ao lado do terrorista para confirmar sua altura.
Ao ver o corpo de Bin Laden, a agente da CIA chorou. Sua missão havia chegado ao fim.
“Não há dia fácil” não diz que destino foi dado ao corpo de Bin Laden e nem o motivo que levou o Seal a deixar a Marinha. Ex-colegas, que acusam Owen de revelar segredos da ação, afirmaram em livro divulgado nos EUA que ele foi expulso por mau relacionamento. À rede de TV CBS, Mark Owen rebateu: “Esta história é por milhares de americanos e americanas, que por 11 anos lutaram na guerra ao terror (após os ataques do 11 de Setembro). O Team 6 foi responsável apenas pelos últimos 40 minutos”.
G1
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