João Pessoa, 12 de setembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Andei pensando em montar num Jumbo e explorar a coisa performatica das pessoas pós-pandemia, as malícias, milícias e a intransigência com todo o caldo sociopolítico que resultará em algo inominável. Mas para isso preciso da ajuda do delegado Aldo Lopes, (foto)) meu detetive favorito, que também é jornalista.
Qualquer pessoa que encarar a realidade que vive precisa correr riscos. Muitos. É verdade, a trompa e aqui tromba é outra. O notável ventríloquo não se permite ao incômodo da repetição nem consegue se articular sem perder a noção de equilíbrio – no caso, sem a melhor ferramenta do ofício, o homem. A figura do ventríloquo está em toda parte, mas invisível. Os jogos eletrônicos o mataram.
O delegado Aldo Lopes tem essa mania de pegar a presa pelo cangote e não oferecer rancor em doses cavalares ao nos colocar contra a parede. Seu romance “O Dia dos Cachorros”, de 2005, não me deixa mentir. Aldo e toda a récua de Princesa, superam o homem que amava os cachorros.
Vamos imaginar que estamos num romance urbano atropelado pelos aspectos da estupidez, gente esperando pregada na pedra lascada ou radicada em olhares inteiramente descentralizados, olhares de piedade que deixam mais fria a narração, de uma neutralidade angustiante. Eu tenho medo desses performáticos milicianos.
Não está fácil desatar esse nó.
A originalidade e coragem da presidente da Academia Paraibana de Letras, Ângela Bezerra, é cada vez mais notável para disseminar o besteirol que está cravado nas patotas iletradas pb. Ângela não é só uma música, é ensaísta e escritora.
Os que embalam a trama dos derrotados, a alternância ao revelar conflitos inferiores, segundo o delegado Aldo Lopes, gera uma doideira desconcertante. Mas não passa disso.
Eu tenho visto muitas saídas nas postagens de W. J. Solha, na combinação dos discursos e imagens que trazem novidades em livros e filmes geniais. Só na impossível interseção entre os imortais, fica claro que Solha é tão maior quanto mais conectado dessa irrealidade cotidiana – esta sim, múltipla e infinitamente mais complexa, mas Solha sabe onde galo cantou mais de três vezes.
E por falar em Saramago, na insólita viagem de seu elefante chamado Salomão, que no século XVI cruzou metade da Europa, de Lisboa a Viena, por extravagâncias de um rei e um arquiduque, tal elefante, não chega aos pés do elefante de Carlos Drummond de Andrade – vejamos “Fabrico um elefante, de meus poucos recursos, um tanto de madeira, tirado a velhos móveis. Talvez lhe dê apoio, e o encho de algodão, de paina, de doçura. A cola vai fixar, suas orelhas pensas, a tromba se enovela, e é a parte mais feliz”.
Mudando de assunto, sou do tempo de passar bem longe do infeliz das costas oca. O delegado Aldo Lopes, quando era xerife do Condado de Princesa, montava seu cavalo até Jatobá, que era, na verdade, um elefante de marfim, ai, de mim, ai de mim.
Eu adoro elefantes, mas tenho que mantê-los de costas, porque reza a lenda que dá sorte, mas sorte tem quem acredita nos livros, o verdadeiro sentido da arte.
Talvez a palavra não dita, mas que o domina, silente, é a memória, ou seja, nossa capacidade de lembrar corretamente o que vivemos, como seres mitológicos, sempre interessados em aprender para conferir.
Outro dia olhei para as incongruências e ambiguidades que vigiam umbigos de homens e mulheres na lembrança do retrato do Brasil atual, e fiquei pasmo. Faz pena.
Completamente açodado, o delegado Aldo Lopes me ligou dizendo, Sr. K não publique essa tromba, antes que cheguemos a nos tornar mais completamente viciantes das flores do mal de Baudelaire”.
Ué, que mal eu fiz?
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OPINIÃO - 22/11/2024