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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Vou por aí

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publicado em 15/09/2021 ás 08h04
atualizado em 15/09/2021 ás 08h06

 

Na Praça do Meio do Mundo, descendo a Serra da Borborema, corto à esquerda e adentro a larga estrada dos Cariris. Dirijo a cem quilômetros por hora, ao som de clássicos, num mp3 tão longo quanto os latifúndios perdidos dos agrestes descampados que meus olhos bebem.

Vou divisando à direita, e maravilhado, os sagrados lajedos de Serra Branca, e, logo logo, atravesso a rua principal de Sumé, terra que deu todas as possibilidades do róseo a Wellington Pereira (foto), todas as safras do bem-querer a Evaldo Gonçalves e os gloriosos gols de Tiviti. Dizem que esta cidade, às segundas-feiras, se transforma no maior santuário do bode na região. Também é de lá o talentoso pintor Miguel Guilherme, que de sua terra nunca saiu para brilhar em outras plagas, pois, segundo ele, não encontraria, em lugar nenhum, um azul tão azul com o azul do céu de Sumé.

Antes de chegar em Monteiro, terra de José Rafael de Menezes e de outras inteligências solares, pego do aceiro que vai dar direto em São José do Egito, passando por dentro de Prata e Ouro Velho. Estranho: chegando ao celeiro dos poetas e repentistas, não faço o caminho mais fácil, ladeando Afogados de Ingazeira e a pequenina Flores, cujos desolados cemitérios mereceram emblemáticos poemas de João Cabral de Melo Neto. Sigo o destino de Teixeira, mas não vou para lá.

Quero mesmo é passar por Matureia, cidade real e imaginária, que meu saudoso amigo Carlos Tavares imortalizou numa novela inédita, Brumário de pedra, escolhendo-a para viver seus últimos dias de solidão, poesia e fervor. É chão, é chão, é chão, mas vou por aí, saboreando a paisagem e apreciando o topônimo das pequenas cidades longe do mundo: Imaculada, Água Branca, Juru e Tavares. Fosse por Flores, teria de subir a serra. Como vou por Tavares, a serra desço e, lá embaixo, avisto a cidade que me espera: Princesa Isabel, lugar que já foi República e território livre. Deus, que me deu à poesia, concedeu-me um poema curto e doloroso para emoldurá-la. Hoje só me resta o cadenciado rasteiro desta prosa miúda para iluminar o ritual do reencontro.

À noite, sento-me na praça, solitário e mudo, imaginando como seria bom estar com Aldo Lopes, Paulo Mariano e Otavio Sitônio Pinto, para prosearmos sobre os casos e causos, os acontecidos e desacontecidos da Campanha de 30, embalsamados pela magia da madrugada e pelas vozes e gritos lancinantes dos eternos fantasmas da guerra.

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