João Pessoa, 21 de setembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A madrugada tinha se tornado fria. O sol não dera ainda seu bom dia costumeiro. Nem invadira o quarto, ordenando sem perna: desperta malandro! Estava a observar algumas postagens, e nosso amigo Luís Carlos, radialista da Rádio Espinharas de Patos, e repórter da cidade, para nós que estamos distantes, anuncia a abertura da festa de Nossa Senhora da Guia.
Não foi um anúncio qualquer. Luís saiu de frente da linda catedral, anunciando a abertura festiva, e mostrando a Av. Epitácio Pessoa. Ao longe, ouvia-se os acordes da Filarmônica 26 de Julho (foto) que, aos poucos se aproximava, entoando um daqueles dobrados que costumam nos enternecer.
A “26 de Julho” que recentemente se tornou, ao completar 90 anos, patrimônio imaterial cultural da cidade de Patos, em Lei sancionada pelo Prefeito Nabor Wanderley. Quem vive em cidades medias ou grandes, com acesso a muitas formas de cultura e divertimento, não imagina o que é uma filarmônica, inundando a cidade com seus belos sons.
Acho que só Chico Buarque conseguiu descrever o que é ver “A Banda” passar. Nos versos da moça triste calada, da gente sofrida se esquecendo da dor. E tudo como se não houvesse moça feia, velho cansado, amor maltratado. Todos felizes, com almas perfumadas pela marcha alegre do despertar.
Luís Carlos deixou que a banda passasse para nos levar o coração a bater no compasso daquele zabumba solene. O que tocava? Um daqueles dobrados lindos que costumam executar. Repetem-nos desde o Século XIX, alegrando recantos do Brasil e firmando-se como importante papel cultural, e, mais ainda, reforçando a identidade e tradições do nosso povo.
Eu sou daquele povo que vive distante, e que, vez em quando, sofre de reminiscências. Povo que não é compreendido, em lugares estranhos aos seus, quando precisa se exceder, ou quando se recompõe ao chorar. Foi assim que me senti ao som da “26 de julho” tocando “Dois Corações”, dobrado de 1920, escrito por Pedro Salgado, que, aos 15 anos, havia composto “Estrela do norte”.
Dois corações é um hino das filarmônicas em nosso país, e traduz um agradecimento de Pedro a João Carmo Souza, que lhe presenteara com uma caneta de ouro. Ele que vendia composições como modo de sobreviver. Mais que isso, DC é patrimônio do nosso Brasil musical e um bálsamo para todos os corações que despertam aos acordes dos dobrados de uma Banda de música.
Tal qual Pedro, escrevo esse texto agradecido ao amigo de adolescência, quando também a generosidade do comunicador em dividir as notas de Dois corações, com seus irmãos distantes das ondas sonoras da Rádio Espinharas de Patos. Obrigado, Luís!
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