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Após recorde em 2011, acidentes aéreos no Brasil crescem 6,2% no primeiro semestre

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publicado em 02/09/2012 ás 10h25

Depois de registrar o recorde da década em 2011, o número de acidentes aéreos no Brasil voltou a crescer no primeiro semestre deste ano, segundo informa relatório parcial do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

O relatório aponta que foram registrados 85 acidentes com aviões e helicópteros entre janeiro e junho deste ano, o que representa um aumento de 6,2% em relação ao mesmo período de 2011, quando foram 80 casos contabilizados. Em 2010 foram 46 casos nos seis primeiros meses.

O relatório do Cenipa traz dados detalhados do setor aéreo do dia 1º de janeiro a 15 de agosto. Por conta disso, não há detalhes dos dados de acidentes apenas do primeiro semestre. Também não há números relativos ao mesmo período de anos anteriores, o que impede comparações específicas às datas compreendidas.

No período compreendido pelo relatório foram registrados 99 acidentes, sendo 89 com aviões e dez com helicópteros. Ao todo, 44 pessoas morreram vítimas desses acidentes, mais que o ano inteiro de 2010, por exemplo, quando ocorreram 39 óbitos.

Em relação a acidentes com vítimas fatais, o número apresenta aumento médio em comparação aos últimos anos. Foram 18 acidentes fatais envolvendo aviões, entre janeiro e 15 de agosto. Em 2009 e 2010, por exemplo, foram registrados 14 ocorrências em cada um dos anos. O recorde anual ocorreu em 2007, quando 29 acidentes resultaram em morte.

No período do levantamento de 2012, o acidente com maior número de mortes ocorreu em Juiz de Fora (MG), com oito vítimas, em 28 de julho. O avião caiu em uma região de difícil acesso e pegou fogo, sem deixar sobreviventes. A aeronave particular levava executivos que participariam de uma convenção, vindos de Belo Horizonte.

Os dados de 2012 apontam que o número de acidentes também cresceu, em relação ao ano passado, quando comparado ao tamanho da frota. Segundo o Cenipa, o percentual da frota de aeronaves envolvida em acidentes chegou a 0,36% este ano, contra 0,32%, em 2011, e 0,23%, em 2010.

O Cenipa informou que não faz análise dos dados. A função do órgão é realizar a investigação de acidentes aeronáuticos para fins de prevenção de novas ocorrências. Os relatórios de cada caso se transformam em instruções de procedimentos, que ajudam a evitar novos acidentes. O órgão não tem poder punitivo.

Análise – Mesmo não apresentando casos de grande repercussão desde 2007, quando o avião da TAM explodiu após colidir com um prédio ao final da pista do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, matando 199 pessoas, os números de acidentes aéreos vêm aumentando no Brasil. No ano passado, por exemplo, o país registrou aumento de 41% no número de ocorrências em relação ao ano de 2010.

Para o coordenador do Departamento de Treinamento de Voo da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul, Guido César Carim Júnior, o aumento no número de acidentes tem pelo menos duas possíveis explicações: o crescimento da fiscalização e a consequente alta nas notificações e as falhas no sistema de prevenção.

“Há a possibilidade de estarmos conseguindo investigar mais acidentes do que no passado. Imagine uma aeronave agrícola ou um avião particular realizando voos em um aeródromo de pequeno porte, no meio do nada, sem a presença de órgãos de fiscalização. Havia uma grande tendência de esconder o acidente e contratar mecânicos para ‘montar’ o avião novamente. Atualmente, a fiscalização sobre as condições da aeronave são maiores, o que tem diminuído essa possibilidade”, afirmou.

Ainda segundo o especialista, os índices também “podem nos sugerir que há falhas no nosso sistema de prevenção de acidentes.” Segundo Guido, a Anac sofre atualmente de carência de pessoal. “Como resultado, a Anac não consegue dar conta do trabalho, reduzindo a fiscalização, principalmente dos aviões particulares, aviação de instrução, táxi aéreo, serviços aéreos especializados e agrícola.”

De acordo com Carim Júnior, hoje, em vez de realizar um voo de verificação com um funcionário da Anac, um aluno que quer sua licença de piloto comercial realiza o voo com um avaliador da própria escola ou aeroclube. “Como saber se realmente ele está apto?”

Segundo o professor, os dados usados pelos órgãos brasileiros são diferentes dos utilizados no resto do mundo, o que dificulta comparações internacionais. “O Cenipa considera somente os acidentes nos quais, entre outros, houve dano severo à aeronave e/ou morte.

A Anac pega os dados do Cenipa e pondera por algum valor para mostrar a exposição. No resto do mundo, os índices somente consideram os acidentes, com pelo menos perda total, ocorridos com aeronaves de grande porte realizando voos no transporte aéreo regular por milhões de pousos e decolagem.”

Uol