João Pessoa, 01 de outubro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Embora escrever nunca seja fácil, escrever sobre grandes acontecimentos tende a fazer com que as ideias fluam melhor. Afinal, a empolgação é inerente aos fatos marcantes, mesmo que seu narrador não seja dos mais confiáveis. Camadas maiores de complexidade parecem estar agregadas à escrita sobre pessoas comuns, que vivem por trás dos holofotes. Nesse contexto de transformar o ordinário em tema magnético, brilha o jornalista Chico Felitti (foto), cujos trabalhos são imperdíveis.
Felitti começou a carreira na Folha de São Paulo. Mais interessado em escrever sobre Hebe Camargo do que sobre Guido Mantega, deixou sua marca também nas redações do Glamurama e do BuzzFeed. No último, escreveu uma reportagem que mudou o curso de sua carreira, sobre o “Fofão da Augusta”. O apelido corresponde a Ricardo, um ex-cabeleireiro que entregava panfletos na rua Augusta, em São Paulo, e possuía o rosto extremamente flácido, devido a substâncias aplicadas na pele. A reportagem já era profunda, mas com cuidado e sensibilidade, foi aperfeiçoada para virar livro. Publicado pela editora Todavia, Ricardo e Vânia resgata a identidade do Fofão da Augusta e de sua namorada. É tão respeitoso e humano que foi finalista do Prêmio Jabuti, a mais tradicional honraria literária brasileira.
No intervalo entre um livro e outro, Chico, aparentemente um multitasker inveterado, comanda podcasts viciantes. Além do Meme, podcast exclusivo do Spotify, investiga o paradeiro de fenômenos da internet. Enquanto os passos do jornalista seguem os rumos da Grávida de Taubaté, sua voz narra um texto por vezes hilário, por vezes sério. Afinal, memes viralizam por seu teor cômico, mas se desdobram em conflitos emocionais e jurídicos. Mantendo o compromisso com a qualidade e o bom humor, a voz de Felitti também está à frente do podcast Isso Está Acontecendo, que desvenda atualidades razoavelmente absurdas, como os sorteios de iPhone na internet.
O segundo livro do autor, A Casa, é uma investigação sobre os esquemas encabeçados por João de Deus, médium condenado por crimes sexuais. Diante de um tema tão pesado, as acusações das vítimas são consideradas, enquanto o jornalista apura outros fatos assombrosos. Além da violação sexual, contratação de atores para fingirem ser doentes e fraude de impostos também foram práticas relatadas na cidade de Abadiânia.
Para outubro, está prometido o lançamento de Mulher Maravilha, a biografia que Felitti escreveu sobre Elke Maravilha. Se as biografias de anônimos são lapidadas como uma joia nas mãos do jornalista, imagine a de alguém famoso e de trajetória extraordinária. Com o selo de qualidade tipicamente felittiano, comprei meu exemplar na pré-venda.
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TURISMO - 19/12/2024