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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

O maior produtor e exportador mundial de café desde o século XIX

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publicado em 03/10/2021 ás 11h03

Recentemente, em 01 de outubro de 2021, foi celebrado o Dia Internacional do Café (International Coffee Day). Os 49 países membros da Organização Internacional do Café (OIC), entre eles, o Brasil, e as 26 associações do setor cafeeiro do mundo, entre elas, a Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), celebraram o Dia Internacional do Café, uma das bebidas mais favoritas da humanidade, a segunda bebida mais consumida do planeta, atrás apenas da água.

O presente artigo comemora também o Dia Internacional do Café e busca enfatizar a importância do café na economia brasileira desde o século XIX até os dias atuais. No Brasil, entre o final do século XV ao início do século XX, observamos a produção e a exportação do pau-brasil, do açúcar (ouro branco), do ouro (metal precioso dourado), do café (ouro verde) e da borracha (ouro branco da Amazônia).

Podemos apontar que o Brasil teve cinco ciclos econômicos, o ciclo do pau-brasil, o ciclo da cana-de-açúcar, o ciclo do ouro, o ciclo do café e o ciclo da borracha. O ciclo do café ocorreu entre os séculos XVIII e XX. Exatamente, entre 1727 e 1930. A força de trabalho utilizada nas fazendas de café, primeiramente, o trabalho de escravos negros, até 13 de maio de 1888, posteriormente, os trabalhadores assalariados, sobretudo, imigrantes europeus.

Para Argemiro Brum (2000, p. 131), no livro Desenvolvimento Econômico Brasileiro, “O ciclo econômico pode ser definido como o período em que determinado produto, beneficiando-se da conjuntura favorável do momento, se constitui no centro dinâmico da economia, atraindo as forças econômicas – capitais e mão de obra – e provocando mudanças em todos os outros principais setores da sociedade (…). Um ciclo propriamente supõe três fases sucessivas: o início da expansão, o auge e a decadência acentuada tendente ao desaparecimento. No caso brasileiro, alguns dos principais produtos cíclicos tradicionais, com destaque para o açúcar e o café, embora experimentassem declínio, continuam ainda hoje a ter relativa expressão, tanto na produção como na exportação”.

O café foi introduzido no Brasil em 1727 pelo sargento-mor Francisco de Melo Palheta, um militar luso-brasileiro. No início do século XVIII ocorreram as primeiras tentativas do cultivo da planta no Pará, na Região Norte. Mas, as mudas do produto agrícola não se adaptaram à umidade da Amazônia e essas tentativas redundaram em fracasso. Somente em 1760, chegaram as mudas de café nas encostas dos morros da cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil Colônia. Em 1770, alcançaram a Zona da Mata de Minas Gerais.

O café no Brasil começou com o contrabando de grãos da Guiana Francesa, território francês na América do Sul. O consumo da bebida pelas cortes europeias já era um hábito, de forma que, com a chegada da família real de Portugal ao Brasil colonial, em 1808, fugindo das tropas francesas, já havia um mercado consumidor em potencial. O Príncipe Regente Dom João em represália a Napoleão Bonaparte, invade a Guiana Francesa, em 1809, e foi totalmente dominada em 1812.

Os grandes produtores de café provocaram o surgimento das ferrovias, que desejavam unir o Brasil Imperial e transportar as suas riquezas, sobretudo, o café. Assim, nasceu a Estrada de Ferro Mauá, a primeira do Brasil, inaugurada pelo imperador Dom Pedro II em 30 de abril de 1854, com 14 km, era os primeiros surtos industriais. A partir de 1820 intensificou a importância do café e pela quantidade de tempo que predominou na economia brasileira. A economia cafeeira concentrada na região do Vale do Paraíba começou a impulsionar a produção e a colheita em um momento em que o grão verde estava em alta cotação na Europa e o consumo crescente de café em cidades europeias como Paris e Lisboa.

O ciclo do café mudou a História Econômica do Brasil no século XIX. O plantio de cafezais na Região Sudeste foi a principal atividade agrícola, devido à grande e fértil área de cultivo, o que permitia ao País controlar quase toda a oferta de café no mercado mundial, regulando assim os preços internacionais, e obtendo grandes lucros. A economia cafeeira produziu 5,2 milhões de sacas em 1886 crescendo para 11,4 milhões em 1896, em outras palavras, um aumento absoluto de 6,2 milhões de sacas de café e um crescimento relativo de 119,2%.

O café da terra roxa foi o principal produto das exportações brasileiras, à frente do açúcar, cacau, algodão, borracha, couros, tabaco e erva-mate. De acordo com o Professor Cyro Rezende (1999, p. 16) na obra Economia Brasileira Contemporânea, “A produção cafeeira foi o motor da economia brasileira entre 1840-1930, sendo responsável direta pela implantação da rede ferroviária comercial do país, pela viabilização de uma base industrial centrada na produção de bens de consumo no estado de São Paulo, a partir das duas últimas décadas do século XIX, e pela modernização do sistema portuário nacional e de alguns centros urbanos, especialmente as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro”.

Compreendido entre os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, o Vale do Paraíba tem regularidade de chuvas e clima adequado para o cultivo do café, é formado, no lado paulista, por São José dos Campos, Taubaté, Jacareí, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Cruzeiro e Lorena. Após a concentração inicial no Vale do Paraíba, e posterior decadência, os cafezais avançam ao oeste paulista em cidades como Campinas, Rio Claro, São Carlos e Ribeirão Preto, e o grão verde também foi cultivado nas zonas de terra roxa do interior do Paraná, na qual a cidade paranaense de Londrina, posteriormente, tornou-se a capital do café.

Conforme Fabio Giambiagi et al (2011, p. 33) no livro Economia Brasileira Contemporânea: 1945-2010, “Durante muito tempo o café foi sinônimo de Brasil e o Brasil de café. Após a forte expansão do plantio e das exportações no período imperial (1822-1889), a preeminência do café na economia e sociedade do Brasil se acentuaria ainda mais durante a Primeira República (1889-1930). Já a perda de importância relativa do setor coincide com o processo de industrialização brasileira, que ganha força no pós Segunda Guerra. Ainda assim, os primeiros 10 anos após o final do conflito foram de escassez do produto no mercado internacional, à medida que aumentava a demanda europeia e que fatores climáticos reduziam a oferta mundial”. Em 1830, o Brasil já era o maior produtor de café do mundo.

A Crise de 1929 nos Estados Unidos da América (EUA) levou o início da industrialização no Brasil, devido a decadência do ciclo do café. Segundo o professor americano Werner Baer em A Economia Brasileira (1996, p. 50), “(…), no início da Depressão, o café era responsável por 71% do total das exportações”. A grande queda da Bolsa de Valores de Nova York derrubou as exportações brasileiras de café para o mercado internacional. O produto interno bruto (PIB) brasileiro retraiu 2,1% em 1930 e 3,3% em 1931, liderado pelo então presidente da República Getúlio Vargas. Porém, foi o presidente gaúcho Getúlio Vargas que criou, em maio de 1931, o Conselho Nacional do Café (CNC) e em fevereiro de 1933, o Departamento Nacional do Café (DNC).

A queima dos estoques de café nos anos de 1930 provocou o processo de substituição de importações, iniciando a produção nacional de bens de capital, bens intermediários e bens de consumo, além de resolver os problemas de dependência de capitais externos. O Brasil se recuperou economicamente a partir de 1932 e passou a dinamizar sua economia produzindo produtos industrializados, que antes eram importados dos países mais avançados.

Para o Professor Nelson Piletti no livro História do Brasil (1999, p. 249) “A crise do café continuou durante o período de Vargas, com a superprodução provocando a queda dos preços. Milhões de sacas foram queimadas na tentativa de restabelecer o equilíbrio entre a oferta e a procura. Além disso, a concorrência de outros produtores de café, cujas exportações cresceram constantemente enquanto as do Brasil estacionaram, também contribui para diminuir a importação do produto na economia nacional”. Nos dias de hoje, os principais concorrentes na produção e na exportação de café são o Vietnã e a Colômbia.

A vantagem do Brasil era possuir a maior parte da oferta do produto agrícola para o mundo, controlando os preços e decidindo de que forma iria atuar na economia internacional. Ocorreu a troca do trabalho escravo pela mão de obra dos imigrantes europeus, cerca de 3,5 milhões de pessoas entre 1870 e 1928, e a maioria de italianos. Infelizmente, o Brasil foi o último país a abolir a escravidão, em 13 de maio de 1888, com a Princesa Isabel, através da Lei nº 3.353, a Lei Áurea. Estima-se em 5 milhões de negros escravos, sobretudo bantos e sudaneses, e o Brasil foi o maior entreposto de escravos africanos das Américas.

A Crise de 1929, nos EUA, provocou a queda do preço da saca de café no mercado internacional. Se os preços já tendiam a cair, a crise econômica fez com que a demanda internacional pelo produto diminuísse ainda mais, o que forçou a queda dos preços com maior rapidez. O governo brasileiro não encontrava nenhuma solução para absorver os estoques, o que causou uma decadência na economia cafeeira da época. Após a grande queda da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, o governo estudou diversas medidas a serem tomadas para evitar que os produtores de café ficassem vulneráveis. Com Vargas em 03 de novembro de 1930, o Estado começava a ter papel fundamental na economia brasileira. Entre 1931 e 1944, foram 4,7 milhões de toneladas de café destruídos dos 17,4 milhões de toneladas de café produzidos, ou seja, 27% do café produzido foi destruído no período de 14 anos, devido à queda do preço da saca do café com as consequências da Grande Depressão.

Segundo Caio Prado Júnior (2000, p. 160) na obra História Econômica do Brasil, “Os Estados Unidos, grandes consumidores de café, voltar-se-ão por isso logo, de preferência, para novos produtores mais livres da dominação britânica. Em particular o Brasil, favorecido além do mais, com relação a eles, pela sua posição geográfica. A produção brasileira de café encontrará nos Estados Unidos um de seus principais mercados; em meados do século XVIII, quando o café se torna o grande artigo da exportação brasileira, aquele país absorverá mais de 50% dela. E esta porcentagem ainda crescerá com o tempo”. Os EUA são o maior consumidor de café do mundo, com 4,2 kg per capita por ano, de acordo com a OIC. Já o Brasil é a maior potência do mercado produtor de café do planeta, com 3,0 milhões de toneladas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a produção brasileira foi 61,6 milhões de sacas de café, sendo 47,4 milhões de café arábica e 14,2 milhões de café conilon. E o estado de Minas Gerais é o maior produtor brasileiro de café.

Conforme Caio Prado Júnior (2000, p. 167), “(…) O café deu origem, cronologicamente, à última das três grandes aristocracias do país; depois dos senhores de engenho e dos grandes mineradores, os fazendeiros de café se tornam a elite social brasileira”. Com o fim do ciclo do café em 1930, na sua maioria, os barões do café se transformaram nos donos de fábricas, e uma minoria, continuaram na cafeicultura e cresceram até chegar a nível atual de agronegócio. Consideramos o café, a soja, o açúcar, o milho e o trigo como commodities agrícolas, porque são produzidas em larga escala, são estocadas, são cíclas no mercado internacional, existindo os países produtores e exportadores e os países importadores, e sobretudo, porque quando a produção aumenta, os estoques crescem, logo, os preços caem, mas, quando a produção diminui, os estoques reduzem, logo, os preços sobem. Segundo o Investing.com a cotação internacional da saca do café arábica de 60 kg fechou em US$ 204,05 em 01 de outubro na Bolsa de Valores de Nova York.

Em Formação Econômica do Brasil, o economista paraibano Celso Furtado (2009, p. 183) alertou que, “Mas não é o fato de terem controlado o governo o que singulariza os homens do café. E sim que tenham utilizado esse controle para alcançar objetivos perfeitamente definidos de uma política”. Enfim, o continental e populoso Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café desde o século XIX. E está em segundo lugar no mercado consumidor global de café, atrás apenas dos EUA. Portanto, vamos tomar um café, um café especial, porque precisamos despertar, pensar e repensar nos novos rumos do Brasil, a 12ª maior economia do mundo e a 8ª nação mais desigual do planeta.

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