João Pessoa, 05 de outubro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Brasileiro, em sua maioria, tem uma simpatia pelo comportamento autoritário, herança, talvez, dos sucessivos períodos de ditadura. O autoritarismo se espalha pelo Serviço Público. Leis e portarias são distorcidas para o mal atendimento, quando deveriam ser interpretadas em favor de cada usuário ou cliente. Pior nesse momento de exceção da saúde.
Filho e nora se dirigem a um posto de vacinação em Vila Clementino. Com um laudo da médica assistente, chegam a um posto em que a auxiliar de enfermagem chama a enfermeira. Esta faz várias perguntas, questiona a residência deles, não aceita o laudo da médica assistente e, absurdamente, recusa-se a aplicar a dose de reforço. Saem dali contrariados, com cara de usurpadores.
A conversa foi um jogo de 7 erros. A capitã desconhece a diferença de residente e domiciliado. Não entendeu que ninguém prova de onde é, ou onde vive, pelo número do celular. Não é ela quem vai definir se alguém precisa ou não da dose extra da vacina, é o laudo do médico assistente. Não está nas normas que ela possa recusar a aplicar a vacina de quem tem direito pleno, baseada na sua livre interpretação. Salvo, se houver falsidade ideológica. Ali, ela não presta favor aos usuários, cumpre obrigações como servidor(a) pública. E com uma recomendação do MS: “Atender e orientar os usuários com responsabilidade e respeito”. Legalmente, único princípio a cumprir, e não cumprido.
Desapontados, porque quem o atendeu o fez de forma a insinuar que eles estavam fraudando o sistema, procuraram outro posto. Entregaram o laudo. Prontamente, a auxiliar perguntou qual vacina gostaria de tomar. Aplicou com presteza. Foram embora, porém, contrariados com o desconforto do primeiro episódio. Convivi com muitos servidores assim. Dedicados, prestativos, que querem crescer. Servidores que respeitam o sentido maior de sua profissão.
Vou repetir uma história por demais conhecida. Nas discussões sobre o AI-5, o Vice-Presidente da República, Pedro Aleixo (foto), Civil, ponderou com o Presidente Costa e Silva, Militar, sobre as imposições ali contidas. O presidente, então, pergunta ao Sr. PA, qual o seu receio. E ele responde: “- Presidente, o problema de uma lei assim, não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”. E vimos o que foi o AI-5 nas mãos dos “guardas” de então.
Guarda no Serviço Público, é só o que existe. Podem estar na antessala do chefe. Na sala de aula. Na recepção da unidade de saúde. Na direção. No funcionário por mais simples que seja a função, desde que possa intervir no acesso ao seu direito. Você, com certeza, esteve diante de vários deles. No policial que lhe aborda. No fiscal da vigilância. Na saúde, então, são muitos e estão sempre a postos.
Pedantes e discricionários. Porém, com outra característica inevitável: absolutamente incompetentes. Adoram um balcão, uma mesa, onde possam esconder suas palurdices. Para quem não aprendeu nem a receber um cliente, poupo-me de descrever as incapacidades. Aliás, são esses mesmos “funcionários”, que alimentam a ideia de que servidor público é aquele que ganha muito, é corrupto e relapso com o trabalho.
Se você encontrar um desses déspotas, onde quer que vá, à procura de obter seus direitos, não se intimide. Nem tenha medo. Como “No Caminho, com Maiakósvky”, de Eduardo Alves (polêmicas para depois!) não os deixem pisar nas suas flores, ou que eles lhe tirem a voz. Denuncie. Aponte o seu direito e o caminho da porta de saída desse mal servidor público. Diga-lhe que concurso público não é passaporte para estupidez, e que não estamos a precisar de guardas de repartição pública. Ganhando nosso dinheiro, então, impossível admitir. Estou abusado de tantos guardas a relinchar. Você não está?
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
TURISMO - 19/12/2024