João Pessoa, 12 de outubro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Acostumado a ler Freud em sua obra original ,em textos científicos portanto, achei emocionante deparar-me com uma entrevista sua, concedida ao jornalista americano George Sylvester. O cenário da conversa foi uma casa de verão nos Alpes austríacos. Freud tinha uma face tensa como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme e tinha uma cortesia impecável como sempre, diz Sylvester. Lembro que Freud teve um câncer na boca. Nesse período, tinha uma prótese do maxilar, resultado de uma cirurgia para exérese da lesão. Ele reclama da prótese e de dor, daí sua tensão.
Parece conciliado com a idade e romântico. “A velhice chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Apreciei muitas coisas, a companhia da minha mulher, meus filhos, o por do sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando, tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu”. E indaga, reticente: que mais posso querer?
Renega o que lhe possa vir depois da vida. “A fama chega apenas quando morremos e, francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. ”Senti-o melancólico, quando o entrevistador insiste, se não lhe significa nada o fato de que seu nome viverá: Absolutamente nada, responde. “Mesmo que ele viva. Estou mais preocupado com o destino dos meus filhos.Não posso ajudá-los muito. A guerra liquidou com minhas posses, tudo que poupei durante a vida,” lamenta.
Ao ler a entrevista, vi um Freud humano. Com suas dúvidas e lamentos. O outro lado do autor polêmico, do escritor versátil; do criador, do homem que fez os humanos se verem de um jeito diferente. E nos ensinou a buscar, por trás de cada atitude,um traço, um resquício da infância, que, inconsciente, continua a nos guiar. Ou a nos iludir. Lendo sua entrevista, senti-me como se estivesse em 1926, tomando um café da manhã ao seu lado, meu saudoso Freud.
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