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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Sobre Pasárgada e Cabedelo

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publicado em 14/10/2021 ás 06h57

Todo o mundo sabe que o poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968) queria ir embora para Pasárgada, pois, como cantou, “Lá sou amigo do Rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/Na cama que escolherei”. Poema este, segundo o autor, escrito num momento de “fundo desânimo, da mais aguda doença”.

Agora, o que pouca gente sabe é que Bandeira também fez um poema, não para o campo dos persas, mas para a nossa querida cidade portuária Cabedelo, em 1928. Foi no espojeiro de minhas leituras que me deparei com estes versos: “Viagem à roda do mundo/Numa casquinha de noz:/Estive em Cabedelo./O macaco me ofereceu cocos./Ó maninha, ó maninha,/Tu não estavas comigo!…/Estavas?…” (In Libertinagem) Lindo, não é?

Para quem gosta de saber o porquê do poema, Bandeira explica: “Fui de Cabedelo a João Pessoa por dentro, entre o coqueiral, e voltei pelas praias: duas corridas de automóvel inesquecíveis. A paisagem de Cabedelo trouxe ao meu espírito (e ao meu coração) as imagens de um livro de estampas que eu e minha irmã adorávamos em meninos: ‘Viagem à volta do mundo numa casquinha de noz‘. Quando passei em Cabedelo minha irmã não vivia mais”. Assim, essas vivências bandeirianas, no dizer de Edson Nery da Fonseca, incorporou definitivamente Cabedelo na literatura brasileira.

Manuel Bandeira viajou muito pelo Brasil, buscando sempre ares favoráveis para seus pulmões, e como lembra seu amigo Nery, depois de andar por ceca e meca, fixou residência no Rio de Janeiro, onde veio a falecer. A poesia de Bandeira está cheia de nomes de lugares, sejam Estados, cidades ou lugarejos. E a nossa Cabedelo não foi por ele esquecida. Como gratidão, merece ter seu busto e o poema encravados no centro daquela aprazível cidade.

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