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O Dia Mundial da Alimentação é celebrado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) desde 16 de outubro de 1981. A primeira campanha do Dia Mundial da Alimentação (World Food Day, em inglês) o tema abordado foi “A comida vem primeiro”. Em 2021, em mais de 150 países, a FAO lançou a nova campanha “As nossas ações são o nosso futuro. Melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e melhor qualidade de vida”.
Há 40 anos a FAO incentiva uma reflexão crítica sobre a fome no mundo. A fome caracteriza-se quando o ser humano não consegue suprir as necessidades diárias de nutrientes imprescindíveis para manter sua saúde e seu organismo funcionando adequadamente. Com certeza, a privação de alimentos é um problema mundial.
Segundo o vídeo oficial da FAO, sobre o Dia Mundial da Alimentação 2021, “A alimentação conta uma história a cada um de nós. Começa na agricultura e as nossas ações afetam cada etapa do seu percurso. Temos um planeta e fazemos parte de um sistema. Temos de cooperar com vista a construir um futuro melhor. Temos de recuperar a ligação com a natureza e trabalhar em uníssono. Vamos reescrever a história da alimentação em prol de um mundo melhor e mais sustentável. As nossas ações são o nosso futuro”.
Quantos milhões de pessoas vão dormir todo dia sem ter consumido as calorias mínimas para suas atividades diárias no mundo e no Brasil? De acordo com a FAO, no relatório anual intitulado O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2021, “Até 812,9 milhões de pessoas no mundo enfrentaram a fome em 2020, são 162,6 milhões a mais do que em 2019”. No ano de 2019, 650,3 milhões de pessoas passavam fome no planeta (FAO). Logo, a fome segue aumentando no mundo tão desigual, tão violento.
Em 2020 a população mundial era de 7,7 bilhões de habitantes em cinco continentes. Mas, a capacidade produtiva de alimentos dos países seria capaz de alimentar cerca de 12 bilhões de habitantes. Em plena pandemia da COVID-19, o contingente de pessoas que ficaram sem alimentos no planeta foram de 426,8 milhões na Ásia; 298,7 milhões na África; 73,3 milhões na América Latina e Caribe; 12,7 milhões na América do Norte e na Europa; e 1,4 milhão de pessoas na Oceania no ano de 2020 (FAO, 2021).
A fome aumentou a nível mundial durante os efeitos socioeconômicos da pandemia da COVID-19, inclusive, no Brasil. De acordo com a FAO, com sede em Roma, na Itália, estima-se que 55,6 milhões de pessoas em insegurança alimentar severa na América do Sul, sendo 7,5 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no Brasil, ou seja, pessoas que passaram um dia ou mais sem comer, sem três refeições ao dia, devido à crise econômica, a pandemia da COVID-19, as condições inadequadas de colheita, manuseamento, armazenagem e transporte de alimentos, além do desperdiço de alimentos no varejo e no consumo.
No emergente, continental e populoso Brasil, segundo o relatório anual da FAO, estima-se que o número de pessoas que vivem com insegurança alimentar moderada ou grave foi de 49,6 milhões de pessoas entre 2018 e 2020. Infelizmente, no mundo, “A pandemia deixou mais 140 milhões de pessoas sem acesso aos alimentos de que precisam”, segundo o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, no outro vídeo para o Dia Mundial da Alimentação 2021.
Entre as principais causas da fome crônica no mundo no ano de 2020, podemos apontar os conflitos armados, as mudanças climáticas, a recessão econômica, o aumento da pobreza, o crescimento da desigualdade de renda e a pandemia da COVID-19. Um dos seis objetivos do Dia Mundial da Alimentação, é fomentar ainda mais o sentido de solidariedade nacional e internacional na luta contra a fome (el hambre, em espanhol), a desnutrição e a pobreza e destacar os êxitos em matéria de desenvolvimento alimentar e agrícola (FAO).
O Brasil é um dos quatro maiores produtores de alimentos do mundo, líder mundial na produção de cana-de-açúcar (752,8 milhões de toneladas), soja (114,2 milhões de toneladas), laranja (17,0 milhões de toneladas) e café (3,0 milhões de toneladas). É o terceiro lugar na produção global de milho (101,1 milhões de toneladas), feijão seco (2,9 milhões de toneladas), e abacaxi (2,4 milhões de toneladas), conforme os dados de 2019 da FAO. E é o quatro colocado na produção mundial de melancias com 2,2 milhões de toneladas em 2019 (FAO).
Ressalta-se também que o Brasil é um dos cinco maiores exportadores de produtos agropecuários da Terra (FAO), além de possui o segundo maior rebanho bovino do planeta, com 218,1 milhões de cabeças de gado em 2020, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A FAO define a segurança alimentar como a situação em que todas as famílias têm acesso físico e econômico à alimentação adequada para todos os seus membros, sem correr o risco de desabastecimento, além de envolver três aspectos, a disponibilidade, a estabilidade e o acesso. Com certeza, a questão de ter acesso aos alimentos é crucial nos dias atuais e o Dia Mundial da Alimentação 2021 está ancorado em quatro pilares sustentáveis.
Sem emprego, sem renda, sem dinheiro, sem crédito, os consumidores brasileiros mais pobres não têm condições de comprar alimentos como arroz, feijão, carne bovina, açúcar, frutas, verduras, leite, óleo de soja, pães, entre outros produtos. O preço dos alimentos e do gás de cozinha aumentaram nas cinco regiões do Brasil durante a maior crise sanitária.
A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), divulgou no estudo intitulado Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil, que “55,2% da população brasileira se encontrava em condição de insegurança alimentar no final de 2020. A pior condição está nos domicílios da zona rural, onde a fome chega a 12%. Dos 212 milhões de pessoas, 116,8 milhões convivem com algum grau de insegurança alimentar. Destes, 43,4 milhões não têm alimentos suficientes para suprir necessidades nutricionais e 19,1 milhões passam dias sem ter o que comer, entre elas, são mais de 9 milhões de crianças e adolescentes”.
Em conclusão, entre 720 milhões e 812 milhões de pessoas não têm o que comer no mundo, a situação da fome mundial é preocupante, portanto, temos que estudar, pesquisar e trabalhar para a erradicação da fome em todo o planeta até 2030. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2, Fome Zero, até 2030, precisa ser alcançado e o Brasil tem um papel relevante na produção de alimentos e no combate à fome crônica e a insegurança alimentar. Hoje, ressalta-se, que, em Glasgow, na Escócia, a fome será um dos temas centrais da Conferência das Partes sobre Mudança Climática da ONU 2021 (COP26). Enfim, na atualidade, a fome é uma realidade triste que golpeia forte a humanidade e a OXFAM estima que atualmente 11 pessoas morram de fome por minuto no mundo.
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OPINIÃO - 22/11/2024