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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

A barba

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publicado em 21/10/2021 ás 07h11

Muitos são os motivos que levam o homem a usar barba. E ao contrário dos cabelos da cabeça, os do rosto não caem nunca, mantendo a aparência máscula e, às vezes, até assustadora do usuário. O assunto vem à baila porque na juventude fiz parte da confraria dos barbudos. Hoje, involuntariamente, pertenço ao contingente dos carecas, lançando mão de minha herança genética.

A barba teve fases importantes na vida do homem e já chegou a confundir minha cabeça nas aulas de História do Brasil. Ora, não compreendia como D. Pedro II, com aquela cara austera, podia ser filho de D. Pedro I, bem mais moço e com aquele jeitão de paquerador incorrigível. Com a barba formaram-se alguns arquétipos como os hippies, os intelectuais da década de setenta (com bolsa à tira-colo e calças jeans), e os militantes políticos denominados de esquerdistas, estes ainda remanescentes.

Dizem que com  mulher de bigode nem o diabo pode, imagine mulher barbuda. Pois é, a rainha egípcia Hatshepsut ao herdar o trono de seu pai Tutmés I, dentre outros símbolos do poder, também herdou a barba, postiça, é claro.

Na Antiguidade era a barba sinal de virilidade. Na Índia chegou a simbolizar sabedoria e para os hebreus, cortá-la constituía desgraça. Ainda hoje no Oriente  é comum arrancar as barbas quando se está desesperado. Aqui no Brasil arrancamos os cabelos mesmo.

Como os tempos mudaram, já não juramos pelas barbas do Profeta e nenhum credor se arrisca a receber um fio de bigode como penhor. Entretanto, ainda encontramos muitos homens por trás das barbas, como diria Drummond.

O poeta Afonso Romano de Sant’anna tem razão ao dizer que “não se conhece bem o homem que nunca deixou a barba crescer”. Consola-me saber que mesmo sem poder recuperar a cabeleira e estando com o rosto escanhoado, um dia ainda poderei botar a barba de molho.

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