João Pessoa, 25 de outubro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Gosto de frases, pois elas simplificam a vida, um ideal. O povo mais antigo resumiu muito o cotidiano e as relações humanas. A conversa de hoje, no entanto, não está pautada nos provérbios da sabedoria popular, mas de dois pensadores, filósofos que contribuíram muito para suas e outras gerações.
A primeira é do filósofo irlandês George Berkeley, diz o seguinte – “Ser é ser percebido”. A segunda é do escritor e também filósofo Jean-Paul Sartre e nos aponta que “morremos no exato momento em que deixamos de ser úteis”. Perfeitas.
Eu estava na universidade quando ouvi de um colega a frase que jamais esqueci “Quem não é visto, não é lembrado”. As redes sociais representam bem esse postulado.
“Passamos” pela vida querendo que os outros nos notem, seja de alguma maneira, de preferência com bons olhos, como se isso fosse sempre possível. O bom mesmo é ser notado por alguma característica que temos, um talento descoberto, uma arte, uma proficiência de qualquer sorte.
Quem não reluz não pode ser encontrado, vive uma vida apagada, sem motivações existenciais. Todos queremos brilhar e mostrar serviço, desde que haja conteúdo. O Berkeley acertou em cheio.
Já a outra rica frase, a do Sartre (foto), aquela do – morremos no exato momento em que deixamos de ser úteis – de igual modo é incontestável. Coitada a pessoa que sonha com uma aposentadoria, com o ficar em casa; desgraçada dela que se dá por realizada na vida, que sente já ter trabalhado demais e que daqui para frente é pijama e descanso. Morreu quem pensa assim.
Temos que ser úteis até o apagar da velha chama. Úteis a quem? A quem quer que seja, mas antes de tudo a nós mesmos, sempre fazendo alguma coisa com vigor e prazer.
Foi um abobado da corte que um dia vociferou que o trabalho seria um castigo divino. Castigo é a inação, o “repousar”, o pijama e as pantufas. Em assim sendo, acabou.
Esconderijos de cada pessoa
Quem disser que não tem alguma coisa a esconder já começou a mentir, e a mentira é algo escondido. Todos guardamos segredinhos, que até Deus duvida de que seja verdade.
Escondemos manias, costumes nada agradáveis, defeitos mesmo. Sonegações que as pessoas fazem até para conquistar outras. Depois, a coisa vai sendo revelada.
Quase sempre passamos pela vida construindo uma reputação com base naquilo que os outros esperam e nos veem lá de fora, nas esquinas. Expectativas alheias. Complicado, não? O diacho é que é difícil viver totalmente solto, solta e deixar de lado nossas encrencas secretas…
Mas há quem já disse certa feita – A vigilância é o preço da eterna liberdade. Nada passará diante de quem tem olhos de perceber e ouvidos de escutar. Não tem jeito, o ser humano se revela por todos os poros.
A frase “comer o sal junto” resume bem a ópera. A convivência revela a individualidade de cada um e mata o mito.
Ver para crer
Interessante, as pessoas são incrédulas, não conheço exceção, frente às obviedades da vida, mas dizem-se crentes diante daquilo que não podem ver e muito menos provar.
Só a “desconfiança” abre portas, nos fazendo descobrir uma “verdade”. Situação vivida todo dia pelos cientistas, desconfiam de tudo.
Os humanos entram em contradição a todo momento. Acreditar, por exemplo, em espíritos, fantasmas, deuses e coisas desse tipo sem nunca terem tido uma única prova de suas existências é refinada estultícia.
Um deus intocável, jamais visto, uma entidade que não faz justiça, que derruba a todos e por igual, que deus é esse? A melhor crença é esperar pelo melhor sem depositar essa esperança e responsabilidade sobre ninguém.
Não há ninguém. Há o aleatório da vida.
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TURISMO - 19/12/2024