João Pessoa, 26 de outubro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Esse é o título da música do violonista e professor de violão, Antônio Emiliano, para um dos velhos festivais. Defendida por minha prima, Cândida Maria, hoje fadista de primeira, tornou-se um hino. Um saudoso hino.
Dizem que existia uma lagoa, às margens do rio espinharas. E na lagoa havia patos. E dos patos da lagoa, tiraram o nome da cidade, que nascia há 118 anos, ainda no século XVIII, com a formação de um povoado em torno da capela de Nossa Senhora da Guia.
Trago dela um mundo de fantasia. De coisas que não existiam. Ou se existiam, eram muito diferentes daquelas imaginações douradas de sol. Trouxe comigo, lembranças de um tempo de coisas simples. Meu Grupo Escolar Rio Branco, um prédio imenso no centro, de frente à prefeitura, onde estudei o ensino primário. Lembrança quase apagada pela infeliz ideia de destruir aquele centro de saber, para construir um prédio apertado para o fórum da cidade.
Ninguém fará outro Rio Branco. Ninguém fará que Dona Raimunda volte, com seu sorriso doce, para dirigi-lo novamente. Ninguém repetirá seus festivais de música, de onde saíram belas canções, nem as festas do milho, o Cine Eldorado, as festas universitárias, ou o Patos Tênis Clube.
Espinharas é corruptela de Pinharas, que é outra corruptela de pinhais, que vem a ser uma grande quantidade de pinhão. Pinhão é um arbusto abundante à margens do rio. Lá, viviam os Pegas e os Panatis, índios que chamavam o rio de Pinharas, que virou Espinharas, e denominou não somente o rio, mas toda a região por onde corra suas águas.
Patos das Espinharas cresceu. Modernizou-se. Há muitas faculdades.
Lá você pode se tornar, dentista, médico, veterinário. Economista, pode há muito tempo. Tem shopping center. TV Sol. Tem prosperidade. Mas sua fala, não perde o charme interiorano, com expressões próprias e capazes de te fazer adivinhar, em uma viagem de ônibus, que chegou ao seu destino.
Meu destino foi outro. Sou cidadão andante. Vagante de outras terras. Pagando a interminável conta dos que se ausentam do seu lugar. Escravo de recordações e filho de saudosa primavera que nunca muda; nem mesmo quando a primavera anuncia o verão. Minha estação é a mesma de quando viajava na Viação Patoense ou na Transparaíba; e, pela madrugada fria (Patos esfria na madrugada!), ouvia o motorista, acordando os passageiros: -Chegou. Era a estação Patos.
Uma pequena metrópole no presente, se é que existe essa composição.
Onde há muito pouco, ou nada de mim, ou dos meus tempos. Eu que tenho parte da família, e que sinto Patos por dentro. Um sentir em forma de juramento, que, em minhas lembranças, viverá por todos os meus tempos.
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