João Pessoa, 02 de novembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Grandes sonhos nos foram retirados. Estar vivo, findou sendo, temporariamente, o maior sonho. Abraço, nem pensar. Beijos, nunca!! Amor, apenas à distância. Como se ainda estivéssemos nos velhos tempo de grandes amores levados e trazidos por cartas.
Lembrei que, na psicologia comportamental, há o reforço positivo e o negativo. No primeiro caso, se tudo sair bem, tu ganhas alguma coisa que te serve como estímulo para o comportamento. É aquele negócio: se fizer tudo direitinho, podes ficar vivo. Poderás até fazer uma viagem de férias.
No reforço negativo, tu ganhas pelo distanciamento de algo que te gera desprazer. Ele também aumenta a probabilidade de um dado comportamento acontecer, no entanto, pela retirada de um estímulo aversivo, sempre que o organismo apresentar o comportamento pretendido. É nosso momento. Enfim, retirou-se a ameaça (não totalmente!) que pairava sobre nossas cabeças.
Mais calmo, entendo que fizemos tantas trelas que tudo, principalmente os estímulos de prazer, nos foram retirados repentinamente.
Aquela simples rotina: acordar, tomar café, tomar banho, ir para o trabalho. Sumiu. Todos para casa já! Era somente o que se ouvias. Olhavam-se os vizinhos das varandas e, quando em vez, ouvia-se um saxofone que chorava ao longe.
Salvou-nos as cartas eletrônicas, com direito a voz e imagem das pessoas amadas, penando encurtar grandes distâncias. O outro ser virou nossa síndrome, nossa fome e nossa sede. Pessoas! Súbito, nos vimos tomados pelos complexos do poeta Pessoa. “Além do medo, não sou nada. Nunca serei nada. E fui contar, mas também não soube quantas almas tenho. Se muitas almas tivessem, muitas ‘covidas’ teria”. E não temos.
Depois de muitas mortes. Depois de muitas disputas e guerras psicológicas, estamos voltando. A poder de Deus, como falam meus velhos companheiros de fazenda, ainda permanecemos com algum juízo crítico de realidade. E mantivemos nossas referências mais diletas.
Apesar de tudo, estamos aqui de novo. Como bradou Gonzaga em sua volta: “Ói eu aqui de novo! Uns, mais afoitos, outros, mais devagar. As máscaras diminuíram. Em meio ao clamor, prometemos algo de novo.
Dissemos que algum aprendizado, no sentido da nossa evolução como seres inteligentes, viria. Um melhoramento geral na nossa genética humana. Pelo visto, isso não veio.
Os maus e bons continuam. O homem, lobo do homem, continua. Esperanças? São poucas. Saudades, muitas. Somos melhores? Desconfio que não. Mas temos motivos para continuar. Como tínhamos, aliás. E está lá na poesia de Cecília Meirelles. “Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.” Não, por acaso, o poema é do livro “Viagem”, de 1939. É isso, tão somente: há uma viagem em andamento. Continuemos!
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