João Pessoa, 05 de novembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Winston Churchill, outrora primeiro-ministro do Reino Unido, prezava por um discurso enxuto, com palavras curtas e de fácil compreensão. Embora a estratégia funcione muito bem para a oratória, a Literatura abrange maior pluralidade de expressões. Dos clássicos imponentes e volumosos aos poemas de três versos, nota-se a possibilidade de escrever boa Literatura de todos os tamanhos e formas. O italiano Domenico Starnone, por exemplo, vem publicando ficções miúdas, mas que viram o leitor do avesso.
De forma superficial, uma de suas novelas, Laços, pode ser enxergada como um livro sobre traição. Afinal, décadas atrás, o casal protagonista passou um período separado devido à infidelidade do marido. Entretanto, encarar a obra assim a reduziria a um ato de imoralidade, enquanto ela é avassaladora porque esmiúça as consequências. Entre ruínas emocionais de um casal idoso, limitações físicas da velhice e relações familiares, Laços é um livro sobre como as coisas nunca mais voltam a ser as mesmas após uma traição, mesmo que o casal mantenha o estado civil.
A investigação do arcabouço emocional de um casal é retomada em Segredos, outra novela breve, mas intensa. Nela, um professor e sua namorada, uma ex-aluna brilhante, compartilham seus segredos mais sombrios um com o outro. O romance acaba, mas o professor passa o resto da vida atormentado: e se ela contar o que sabe sobre seu lado mais podre? A angústia corrói suas entranhas, limita sua vaidade e demonstra como pessoas reagem de modo diferente à mesma exposição.
Starnone é um autor que levanta muitos diálogos. Pode-se comentar sua carreira jornalística ou seu insuficiente alcance internacional, com poucas traduções inclusive no Brasil. Pode-se conspirar sobre a possibilidade de o autor ser a pessoa por trás do pseudônimo Elena Ferrante, cuja identidade é um mistério literário. Entretanto, eu prefiro exaltar sua objetividade textual. O autor prova que não é necessário rebuscar muito o texto para fazer boa Literatura. Às vezes, basta que a história afete nossas ternuras e angústias mais íntimas.
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OPINIÃO - 22/11/2024