João Pessoa, 18 de novembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Estamos vivenciando um momento sem acreditarmos plenamente em nossas instituições, sempre desconfiando daquilo que nos é dito. Essa desconfiança me fez lembrar o poeta Thiago de Mello, quando em seu poema Estatutos do Homem, no artigo IV vaticina solene: “Fica decretado que o homem/não precisará nunca mais/ duvidar do homem./Que o homem confiará no homem/ como a palmeira confia no vento,/como o vento confia no ar,/como o ar confia no campo azul do céu”.
Por outro lado, acreditamos em tantas coisas como horóscopo; vida após a morte, céu e inferno. Tem gente que acredita em governos, outros em religiões. Muitos não acreditam em nada, e mesmo assim são felizes. Existem pessoas que não acreditam nos seus cônjuges e desconfiam da própria sombra, mas pedem para a cigana ler suas mãos.
Tem poderosos que acham que são deuses, outros têm essa certeza. No amor muitos ainda acreditam, mas ao dinheiro se apegam com mais fervor. Numeroso contingente só acredita na beleza exterior e nos ornatos de grife para seu realce. E a poesia, devemos nela acreditar? Para que serve? E o poeta maranhense Ferreira Gullar é quem responde: “serve para quando a morena for embora”.
Acreditamos no fim da escravidão e também que o Brasil não é um país racista, mas desconfiamos que todos nós somos iguais perante a lei, conforme reza a Constituição Federal. Acredita-se em biografias autorizadas, mas fica-se com um pé atrás ante alguns formadores de opinião. Há quem desconfie que o homem pisou na lua, por outro lado tem gente querendo morar em Marte. Um bom bocado só acredita na força bruta e sente-se muito bem representado pela bancada da bala, outros fazem coro com Vandré e “acreditam nas flores vencendo canhões”.
Eu, por minha vez, acredito no menino que ainda não deixei de ser, na esperança de que “o homem confiará no homem/como um menino confia em outro menino”, como disse Thiago de Mello.
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OPINIÃO - 22/11/2024