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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

Minha pátria é minha língua

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publicado em 26/11/2021 ás 07h13
atualizado em 26/11/2021 ás 07h15

Esqueçam os museus recheados de relíquias. Ou melhor, não esqueçam, mas guardem para outra hora. No Museu da Língua Portuguesa (foto), localizado no centro de São Paulo, as edições históricas de livros expostos não são tão originais assim.

O primeiro livro impresso no Brasil, Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, até está no museu, mas em fac-símile. Esta fluidez entre preciosidade e popularidade talvez seja o maior trunfo da instituição. Afinal, não é a língua, ao mesmo tempo, única e plural?

Mais do que conservar objetos de valor histórico, o Museu da Língua Portuguesa, que passou quase 6 anos fechado após um incêndio que destruiu parte do prédio, é um templo ao nosso idioma pátrio. Possui instalações em que é possível ouvir a prosa de brasileiros com os mais diferentes marcadores sociais, do Oiapoque ao Chuí, com diversos léxicos e sotaques. Cada sílaba fonética pronunciada é um deleite para quem encontra na articulação da linguagem um universo de possibilidades.

Além de instalações interativas, em que é possível selecionar palavras para desvendar sua etimologia e significação, as paredes do museu revelam-se um grande livro com a história do idioma. Da imposição do latim pelo Império Romano na região lusitana até a inclusão de gírias oriundas da internet ao nosso vocabulário contemporâneo, a palavra é valorizada em toda sua potência.

Fernando Pessoa soube extrair tanto da Língua Portuguesa que construiu múltiplas personalidades em um só idioma. O poeta de mil faces, como destaca o museu, acreditava que quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma. Nesse caso, o Museu da Língua Portuguesa oferece ferramentas para ler melhor tanto o verbo quanto a vida.

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