João Pessoa, 03 de dezembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
É impossível pensar em F. Scott Fitzgerald ou em Jay Gatsby, seu personagem mais famoso, sem pensar em drinks elaborados e festas suntuosas. Sem entrar no mérito do vício, Hemingway e Bukowski também são indissociáveis de algumas doses de whisky ou de licor.
Na literatura brasileira, a cachaça, especificamente, também parece ter dado um pouco mais de sabor ao verbo, mesmo sem tanta elegância. Afinal, como aponta o pesquisador Maurício Ayer, a aguardente tem papel singular na narrativa de Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, e na obra poética de João Cabral de Melo Neto.
Algumas associações entre a bebida e grandes escritores, contudo, tendem a glamourizar o álcool, colocando-o como potencializador das ideias mais geniais. Não se fala tanto dos horrendos impactos do vício. Nesse contexto, a jornalista Bárbara Gância (foto) escreveu um relato honesto sobre seus quase 30 anos de dependência, provocando transtornos à família, às namoradas, aos amigos e, principalmente, a ela mesma.
Meio biografia, meio cartilha, A Saideira é fundamental para desconstruir alguns mitos sobre vícios, como aquele de que um álcoolatra é um homem jogado na rua. Bárbara é bem humorada até para falar de assuntos sérios, mas revela sem pudor que o àlcool já lhe custou inúmeros constrangimentos públicos, perdas de afetos, consequências jurídicas e até a visão parcial de um olho, após somar bebida e direção.
Também são trazidos importantes dados sobre o Alcoólicos Anônimos e seus 12 passos que levam à recuperação. É compreensível a angústia de quem precisa mudar “pessoas, hábitos e lugares” para manter a saúde. Todavia, como ela expõe, a sobriedade vale a pena e é uma vitória a ser conquistada de forma contínua. Limpa há mais de 10 anos, Gância mantém o mantra: só por hoje.
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TURISMO - 19/12/2024