João Pessoa, 06 de dezembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
André Mendonça (foto) ocupará uma vaga no Supremo Tribunal Federal. O cargo foi uma conquista da classe evangélica, algo visto por muitos como uma “representatividade”. Mas deveria ser assim mesmo?
Reza a Constituição que para ser ministro da Corte é preciso ser brasileiro nato, com idade acima de 35 anos, reputação ilibada e notável saber jurídico. Como você acabou de ler, não há requisito algum o envolvimento da pessoa com religião. Mas por que queriam um sujeito “terrivelmente evangélico”, como pregava Bolsonaro? A resposta você deve saber e é simples: para “pagar” favores políticos a evangélicos que o ajudaram a chegar ao Palácio do Planalto.
A Corte máxima do nosso país passará a ser, lamentavelmente, um “puxadinho” da Casa do Senhor. Pelo visto, magistrados vão ler citações bíblicas e entoarão cantos religiosos antes das sessões.
Talvez os poderosos de Brasília esqueceram que esse nosso Estado, por vezes carcomido, coitado, é um Estado Laico – ou deveria ser. No Brasil, a separação entre a Igreja e Estado foi efetivada em meados de 1890. Até então, catolicismo era a religião oficial e as demais religiões eram proibidas.
Um vídeo percorre as redes sociais, nele é possível ver Michelle Bolsonaro em êxtase com a aprovação de Mendonça. Aos gritos de “glória a Deus” e “aleluia”, a primeira-dama pula, ora, chora ao abraçar o ex-advogado-geral da União e outras pessoas presentes na sala que aguardavam o final da votação no Senado. Cenas patéticas.
Mendonça já disse que vai garantir e respeitar a diversidade de credos religiosos, que vai ser democrático, isso e aquilo, um banho de conversa para fazer o boi dormir. Pobre boi. Poucas horas depois, afirmou “É um passo para um homem, mas um salto para os evangélicos”. Confesso, leitor, leitora, que não entendi. Amigos da Imprensa não lhe pediram explicações sobre a frase. Silêncio total.
Num país de intolerantes, a justiça não deve ater-se a pensamentos e anseios em comunhão com o divino, mas, notada pela espinha ereta e que não baixa a cerviz. Aqui, a única religião que deve ser válida é a religião dos bons costumes, da ética, a que prega revolução cultural. O Brasil é um das nações mais afeitas à intolerância religiosa.
–“Ah, Yago, mas somos rebanhos, ovelhas do Senhor…” Eu não quero ser rebanho, muito menos ovelha. Ovelha não pensa, não se autodetermina.
Enfim, para terminar a conversa enjoada… Se o povo reagisse, a história seria narrada de um jeito bem diferente. Nada pessoal diante do novo ministro eleito, mas que o STF e cada um de nós fiquemos atentos ao amanhã que chegará – se houver amanhã.
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TURISMO - 19/12/2024