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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

A palavra que virou esperança

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publicado em 07/12/2021 ás 07h20

A primeira vacina do mundo, foi criada pelo médico inglês Edward Jenner, em 1796. Utilizou um vírus de uma doença adquirida da vaca, que provocava lesões semelhantes à varíola humana. A bem da verdade, inoculou a secreção de uma dessas lesões, num esforço para barrar a mais temível das doenças virais. Para se ter uma ideia, enquanto a letalidade global da Covid 19 é de 6,5%, a da varíola chegava a 30%, e ocupa o posto da doença que mais matou.

Na estimativa de Donald Henderson (1928-2016), a varíola deve ter causado a morte de 300 a 500 milhões de pessoas ao longo do século XX.  Na fazenda onde fui criado, existia um pequeno cemitério, que em si guardava um túmulo, um único túmulo, além de pertences e objetos do morto, como pratos, colheres e copos. Tudo era enterrado junto, devido a virulência daquele pustulento flagelo. Segundo diziam os mais antigos, ali era o túmulo de uma vítima da varíola. Não foi tão menos dramático para nós, esse século XXI. Porém, antes de tudo, contamos com toda a evolução do conhecimento que tivemos, e que Jenner, coitado, nem sonhava conhecer.

Foi desse novo flagelo, não por acaso, entre as tantas palavras que poderíamos escolher, que o Oxford English Dictionary, publicado pela Oxford University Press, um dos mais conceituados do mundo, escolheu como palavra do ano 2021, “vax”. Uma espécie de gíria, uma abreviação usada em inglês para vaccine. Da mesma forma, não foi outra a palavra do americano, Merriam Webster Dictionary, que apontou a palavra vacina, como a mais procurada nesse ano, com um aumento de 601% de buscas, em comparação com 2020.

Ano a ano, tenho acompanhado a escolha desses verbetes que tentam traduzir, em um único termo, o que foi, ou o que vivemos, no ano que passou. Vinha apostando comigo mesmo: que palavra virá esse ano? O próprio vocábulo pandemia poderia ocupar o podium. Entre surpreso e feliz, percebo que não ficamos no atoleiro em que ela nos meteu. Mas nas ações e procuras da ciência e sua comunidade associada.  Porque não dizer, nas nossas procuras como pessoas comuns, que foram, tanto quanto as dos cientistas, a de um pouco de luz, para   deslindar o breu que desabou sobre nossas cabeças.

E que assim seja nos próximos tempos. Que a “vax” de tantas polêmicas, que gerou tantos desencontros, que criou o passaporte de vacina, os anti-vaxxers, que, por aqui, chamam de negacionistas. De uma, duas ou três doses, nos fez continuar analisando nossos dias, atitudes e costumes. Descobrindo outros sentimentos e identificando um vírus como o mais perigoso lobo do homem, cinco séculos depois que Thomas Hobbes (foto) tornou conhecida a famosa frase.  “O homem é o lobo do homem”. Vencemos? Ainda não. Apenas traduzimos, dentro de nós mesmos, para muito além de um termo puramente médico, ou uma dose inoculada no braço, a vacina, em 2021, como uma palavra que virou esperança.

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