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A professora Erika Marques, Reitora do Centro Universitário Uniesp, é doutora em Psicologia Social - UFPB, Mestre em Desenvolvimento Humano - UFPB, tem MBA em Gestão Universitária pela Georgetown College e é especialista em Planejamento, Implementação e Gestão em Educação à Distância pela UFF. @profaerikamarques

Efeito retrato

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publicado em 08/12/2021 ás 07h52

O efeito retrato é uma ferramenta que temos em alguns dispositivos, no qual podemos selecionar um objeto na foto e destacá-lo. Obviamente como tudo na vida, ao destacar algo, desfocamos o cenário ao redor, e assim seguimos nas nossas seleções naturais e diárias.

Quando era criança e ouvia alguém dizer, por conta de um acidente ou doença, que quase tinha morrido, e ao retornar se tornava a mais agradecida e feliz de todas as pessoas, achava estranho. Certa vez ouvi de alguém que perdeu uma perna: se tivesse minha perna novamente seria a pessoa mais feliz do mundo, eu me perguntava, e porque não era?
Se a vida era a mesma, com mesmas pessoas e cenários, o que ao meu retorno ao ponto de partida me trazia a essa felicidade?

O que nos faz selecionar os mesmos fatos e pessoas como positivos ou negativos dependendo do nosso momento, seria a nossa percepção? A nossa interpretação, talvez? Pensei sobre isso um dia que fui visitar o Morro do Alemão, uma favela no Rio de Janeiro. Eu em um bondinho refrigerado, em um passeio, reclamando do calor, olho pra baixo e vejo em um espaço pequeno de vielas apertas e amontoadas, uma roda de samba com todos sorrindo e cantando. Senti-me uma ET e pensei como a felicidade é relativa, mas como é dependente das nossas interpretações e seleções daquilo que enxergamos (não do que vemos, do que percebemos mesmo, porque muito do que vemos, não conseguimos enxergar).

Entender o que é importante, é um assunto muito romantizado e discutido nos textos disponíveis na internet, não quero ser redundante. Mas é fato que percebemos e interpretamos movidos às nossas experiências e nossos humores (e também amores). Se pararmos para perceber, sempre as nossas interpretações e seleções partem de um ponto convergente com o que sentimos naquele momento, e isso é inerente ao ser humano. Porém em momentos de perda, de alguém doente na família, pensamos o que realmente importa nas discussões dominicais, nas entrouxadas de boca, na cara feia de um com o outro, se ao final tudo isso é perda de tempo, pois a vida é um sopro.

Fazemos tantos compromissos, nos impomos tantos planos, melhorias, metas incríveis e não cuidamos da nossa interpretação, da nossa disponibilidade com a leveza, com o que realmente importa, com o dar e receber amor, algo tão simples e muito mais impactante que qualquer outra meta ou plano que possamos nos colocar. Devemos primeiramente entender que nossas metas devem convergir com o tangível, com o possível, antes de tudo e que mudanças simples podem promover impactos consideráveis na nossa vida.

Ser comprometido com a felicidade não é se cobrar nada de grande porte, é atuar na sua maneira de ver o mundo, de enxergar as pessoas e de valorizar tudo aquilo que você tem e a beleza genuína nas experiências que a vida lhe traz. Talvez por ser possível, seja mais esquecido, pois as pessoas tendem a fazer planos de alta complexidade, assim não se comprometem caso não os alcancem, mas a interpretação da vida e do que podemos fazer nela, trás em si uma mudança de ação, que nos tira da zona de conforto.

A quem se permite, desafio mudar a perspectiva, se esforçar não para alcançar grandes feitos, mas para ver melhor aquilo que temos ao redor e se encantar com o mesmo de todos os dias, dar-se ao luxo de se deliciar mais com o ser e o sentir do que com o ter. Obviamente o ter é mais fácil ao ser algo adquirido, mas sem dúvida é menos intenso, por ser efêmero.

A alegria daquelas pessoas do samba da favela me encantou e me marcou, e ao voltar recentemente ao Rio, ao invés de ir a uma grande casa de show, ou algum local chique e descolado, fui a um samba na rua, daqueles que as pessoas vão chegando e cantando, que você fica do lado de fora do boteco lotado. E afirmo aqui o que eu já imaginava, como é relativa e acessível essa tal felicidade. E o que eu senti? Só indo mesmo, porque minha alegria atravessou o mar e ancorou, não na passarela, mas na minha vida.

Permita-se e enxergue aquilo que antes só via….

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB