João Pessoa, 16 de dezembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Desde criança bebo suco da polpa e como a castanha do caju, fruta que tem escasseado nas feiras de nossa capital. Lembro que ao longo da estrada que dá acesso à cidade portuária de Cabedelo, suas margens eram repletas de cajueiros e no período da safra a molecada acorria aos seus galhos para a colheita do saboroso fruto. O que aconteceu? Por que sumiram os cajueiros? Talvez a expansão imobiliária tenha contribuído para o seu desaparecimento.
Na casa onde passei toda a infância e a adolescência tinha um pé de caju, além de bananeiras e mangueira, coisa comum nas casas que tinham quintal. Hoje, continuo morando em casa com jardim e estou decidido a plantar um cajueiro, mesmo contrariando a vontade de minha esposa, que prefere roseiras e plantas ornamentais. E não há como falar de infância e cajus sem lembrar de um excelente livro de crônicas do jornalista e escritor de Serraria José Nunes, intitulado justamente de “O cajueiro e os cronistas”, onde na crônica do mesmo nome se refere ao hoje esquecido escritor Humberto de Campos (1886-1934), que no livro “Memórias” dedica o capítulo XXXII a seu melhor amigo de infância: o cajueiro por ele plantado numa casa dos Campos, em Parnaíba, no ano de 1896.
O paraibano Nunes nos lembra que “A literatura tem a fragrância de caju, a começar pelo período colonial quando encontramos Frei Vicente, Gabriel Soares e Frei Francisco de São Carlos descrevendo os cajueiros”, e o maranhense Campos relembra que “Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica”. Soube que os poucos cajus ainda expostos à venda aqui em João Pessoa vêm do vizinho estado do Ceará, onde se fabrica o saboroso refrigerante cajuína, também encontrado no Piauí. Mais do que qualquer outro sabor, é o do caju que me remete à infância de tantos bons momentos.
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OPINIÃO - 22/11/2024