João Pessoa, 23 de dezembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Fui surpreendida com uma boa notícia, dada por um amigo residente em Brasília, Dalto Lima, paraibano de Areia e confirmada pelo escritor, poeta, historiador e jornalista José Nunes, que me chamou atenção. Disse Nunes:” Luciana Balbino é uma pessoa simples, do campo, que adora viver no meio rural, e que luta por melhoria de renda e emprego da comunidade em que vive”. Tratava-se do recebimento da Comenda do Mérito do Empreendedorismo Nacional, fato ocorrido no Rio de Janeiro por iniciativa da Câmara Brasileira de Cultura e da Academia de Ciências e Artes, destinada a personalidades que se destacaram em suas atividades no biênio 2020/2021. A cerimônia ocorreu no Clube Militar, no Centro do Rio de Janeiro. Já a conhecia superficialmente por minha passagem em Areia e ter almoçado no Restaurante “Vó Maria”.
Luciana Balbino é uma líder jovem de uma comunidade chamada Chã do Jardim, em Areia-PB. Como foi que surgiu essa liderança de Luciana? Luciana era uma adolescente que participava do grupo de jovens da igreja católica. O SEBRAE, há mais de dez anos, chegou para fazer reuniões com as lideranças locais em Areia e Bananeiras, visando a implantação do circuito e do roteiro do frio, com o propósito de incrementar o turismo na região. Luciana foi uma das primeiras a participar das reuniões, atendendo a chamada do SEBRAE que costumava convidar empresários, empreendedores e proprietários de empresas, pessoas ligadas a instituições, líderes religiosos e políticos. Isto com a finalidade de melhorar e desenvolver a qualidade de vida de todos os envolvidos na região e nas cidades.
O SEBRAE montava um plano estratégico de ações, uma agenda de compromissos com a meta de desenvolvimento integrado, local e sustentável (DELIS). Qual o objetivo? Era o de fomentar as capacidades da área, geração de emprego e renda além do crescimento econômico, de modo que as pessoas permanecessem no local e com isso a comunidade fosse beneficiada. O turismo surgiu como potencialidade para a região, abrindo boas perspectivas para a criação de um apoio logístico necessário. Isto por que havia riquezas naturais locais, como a Mata do Pau Ferro, que é ainda remanescente da Mata Atlântica, abundância de frutas, hortaliças, etc. Diante desse contexto, as lideranças foram montando agendas de compromisso para que esse tipo de turismo fosse desenvolvido. A produção associada ao turismo, como quem fazia artesanato, ou lidava com a gastronomia que pudesse estar atendendo ao turista. Portanto, a produção associada ao turismo e o turismo de experiência, estas foram as duas vertentes.
Na especificidade da comunidade de Luciana Balbino existia fruta em abundancia, surgiu a ideia de fazer uma usina de beneficiamento de polpa de frutas para sucos, sorvetes, doces e outras utilidades, para vender, e essas frutas foram beneficiadas. Este foi o primeiro negócio que surgiu. Os jovens da igreja foram envolvidos, se reuniram e começaram a colher as frutas e fazer as polpas. Houve um investimento do COOPERAR, na época, para compra dos freezers, das despolpadoras, das máquinas e Luciana foi uma líder fundamental nesse empreendimento. Na ocasião, o SEBRAE recebeu a consultora Mirian Rocha, do Ministério do Turismo, que veio à Paraíba e foi à comunidade. Lá já existia o levantamento das lideranças, o projeto da polpa de fruta, a mata do Pau Ferro era latente e a natureza pujante. Luciana já atuava e Mirian deu várias ideias para aquela comunidade construir trilhas na Mata do Pau Ferro para receber os turistas e durante a caminhada eles tomariam o suco da polpa de frutas fabricado pelos jovens da comunidade, que poderia ser servido em cestinhas feitas da palha da bananeira por artesãos locais, produtos da gastronomia para que os turistas que fizessem as trilhas da Mata do Pau Ferro pudessem sentar numa esteira de palha de bananeira e degustar assim uma tapioca, um bolo de banana , um sorvete ou suco e nesse momento fosse acrescida a parte cultural realizada pela participação da cantora Rejane Ribeiro, que toca violão e é amiga de Luciana, dando o show, enquanto os turistas faziam o piquenique na Mata do Pau Ferro.
A comunidade começou a ser conhecida porque os jovens começaram a se mobilizar, pois já tinham a polpa de frutas, as trilhas na Mata do Pau Ferro, já conheciam a flora, a fauna, sabiam receber os turistas, fizeram cursos de guia, condutores e de atendimento ao cliente; já existia o artesanato que estava sendo agregado pelas mulheres que trabalhavam com a palha da bananeira, Rejane Ribeiro que fazia a parte cultural, e as que estavam envolvidas com a gastronomia. Essa corrente do bem foi crescendo na comunidade. Foi quando Luciana teve a ideia de criar um restaurante a que deu o nome de Vó Maria, em homenagem a sua avó.
Em razão do turista que experimentava de toda a gastronomia típica no passeio, quando terminava o percurso surgia a pergunta: onde se podia comer uma galinha de capoeira? Uma carne de bode e carneiro guisado ou assado? Etc. Então, partindo dessa reinvindicação ela montou um restaurante e oportunizou aqueles jovens que não tinham emprego nem se integrado em outras atividades na comunidade, engajar-se nas tarefas, prestando serviços no restaurante, trabalhando como garçons, ajudantes de cozinheiro, realizar serviços gerais e outros. Mais adiante surge outra idealização, porque com o desenvolver do empreendimento o turista não se contentava só em percorrer as trilhas e comer as guloseimas locais e ouvir Rejane Ribeiro.
Desejavam pernoitar ali, porque a experiência era tão rica que demandava algum lugar para passar a noite. Luciana, sentindo essa necessidade, reservou uma parte da área do sítio da comunidade, denominado “Sitio de Vó”, terraplanou o terreno, construiu uma pequena piscina e uma base de apoio com cozinha e refeitório, onde os hóspedes podiam servir-se do café da manhã. Não tendo dinheiro para construir, instalou o Hotel de Barracas de camping, e começou a hospedar pessoas e familiares, tornando-se o primeiro do gênero na região. O hotel foi aumentando e hoje já tem quartos de alvenaria construídos e a tendência é de expansão. De modo que com esses feitos ela envolveu todos da comunidade o que constitui seu maior legado. Sua liderança agregou a todos aqueles pertencentes à comunidade que queiram trabalhar, pensassem futuristamente e desejassem ganhar dinheiro, incluídos no grande projeto de sua comunidade chã do Jardim.
Por esta razão Luciana Balbino é tão importante, porque ela foi e é uma líder inspiradora de jovens e de pessoas da comunidade, envolvendo-os em seus sonhos e projetos em que estava à frente. Atualmente, dá palestras como exemplo de caso de sucesso, na Paraíba, em outros Estados e até fora do país, como modelo de desenvolvimento local integrado e sustentável a partir da vontade dos jovens da comunidade em querer transformar aquela realidade, com o que possuíam, sem depender de grandes investimentos, nem do poder público diretamente. Ao iniciar com o que tinham deram um rumo diferente às suas vidas.
Tudo foi feito através da condução de uma líder que teve como premissa o bem coletivo do crescer juntos e alcançou seu desiderato fazendo aqueles jovens se despojarem e se convencerem da sua verdade, no que acreditava, e mostrar concretamente a realização de sonhos que são possíveis de se concretizar. Razão porque é merecedora da homenagem. Hoje é uma empreendedora que vem colocando Areia em destaque no Brasil e no mundo.
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OPINIÃO - 22/11/2024