João Pessoa, 24 de dezembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Meus queridos amigos, não discutam com doutrinados. Não adianta. Não entrem nos seus perfis para contestar. Deixem-nos de lado. Ignorem-nos. Se quiserem contestar, façam uma postagem em sua própria página, mas nunca, jamais, toquem no nome do doutrinado. Isso fará com que ele espume de ódio e, certamente, os acusará de estarem propagando o ódio que o consome.
Não se preocupem se ele invadir sua postagem, ele não pensa, ele não raciocina, ele não reflete sobre os fatos. Ele apenas repete o que o doutrinador, que eu chamarei doravante, agradecido a Nelson Rodrigues, de Sobrenatural de Almeida, manda repetir. Façam uma pesquisa rápida no que eles dizem no feicibúqui. É sempre a mesma coisa. É sempre a mesma cantilena. As mesmas desculpas. Os mesmos argumentos frágeis. Os dois lados se atacam, se ofendendo do mesmo modo. Não percam tempo, meus amigos!
Doutrina é coisa séria. A doutrina não quer que alguém pense, mas que repita sem refletir o que lhe foi incutido no cérebro. Incutido não na parte nobre do cérebro, mas naquela parte onde se encontram os nossos sentimentos e emoções mais primitivos, o hipotálamo. O doutrinador é inteligente, mas o doutrinado ainda se encontra no estado reptiliano. O intuito da doutrina é que haja uma defesa incondicional daquilo em que se acredita. O doutrinador age por maldade intelectual, o doutrinado por convicção irrefletida, pois ele foi inutilizado em sua capacidade de raciocínio, então ele só papagueia. E, como o papagaio, ele só utiliza uma das duas articulações da linguagem, aquela que faz operar o aparelho fonador. A que faz operar o cérebro está intacta. Zero quilômetro. Eles são incapazes de escrever um texto em que exponham claramente seus argumentos, pois foram inutilizados pelo Sobrenatural de Almeida.
A doutrina é tão séria que os sofistas diante dela são crianças abestalhadas. Sócrates foi vencido de novo. A culpa é da cicuta, assim como a culpa é do juiz ou da lei. É como alguém que foi traído e coloca a culpa no sofá, onde a traição aconteceu.
O mais importante, contudo, é observar que os argumentos do doutrinado e as suas defesas ardorosas de um fato qualquer só valem quando ele, o reptiliano, os usa contra quem ele foi obrigado a tomar como inimigo. Quando os mesmos argumentos são usados contra ele, os argumentos não valem ou o que foi dito está fora de contexto.
A esta situação esdrúxula, eu chamo de Síndrome de Ivan Ilitch (foto). Ivan Ilitch, personagem-título da novela de Lev Tolstói, mais doente da alma do que do corpo, indigna-se e desespera-se diante da morte, não querendo e, mais ainda, não podendo compreender que a morte possa atingi-lo. De nada adianta o silogismo que ele aprendera na escola – “Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal”. Isto só é correto para Caio, na absurdez da incompreensão do personagem Ivan, nunca em relação a ele proprio:
“E Caio é realmente mortal, e está certo que ele morra, mas quanto a mim, Vânia, Ivan Ilitch, com todos os meus sentimentos e ideias, aí o caso é bem outro. E não pode ser que eu tenha de morrer. Seria demasiadamente terrível”.
Com uma ironia fina, Tolstói nos dá um perfil da incompreensão de Ivan Ilitch, que, de certo modo, nos faz lembrar aquele de quem é doutrinado. Claro, não há como comparar o excepcional perfil que Tolstói faz de seu personagem, com as atitudes toscas dos que apenas aprenderam a repetir. Repelir, contudo, as certezas, em nome de uma desrazão qualquer, os aproxima na sua irracionalidade. Não há nada pior do que a doença da alma.
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TURISMO - 19/12/2024