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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

O mundo e seus feudos

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publicado em 30/12/2021 às 08h46

O último sol do ano havia baixado. Ana Carolina sempre falou que tinha o corpo fechado, mas não foi bem assim dessa vez.

Em meio a festas de fim de ano acordou e olhou o calendário e algo estava invertido. Não era 2022, o celular acusava 2202. Ela pensou consigo mesma que eram coisas de erro de digitação do programador geral da internet ou da Apple que na verdade não era mais uma maçã, era uma pera, portanto era erro da “pear” mordida.

Bom, tomou seu banho, saiu de casa e estranhou não ter ninguém na rua, que não era mais rua, eram trilhos, tudo ao seu redor estava diferente, só que com características medievais.

O mundo se tornara feudos, verdadeiros fortes protegidos, ao olhar para trás viu novamente sua casa, mas não a reconheceu. Assustada, ao tentar voltar pra casa surge de repente um vagão prateado, numa velocidade estonteante.

A porta se abre e um comando a ordena para entrar, era uma ordem da polícia local para que entrasse imediatamente. Carol foi levada ao Departamento regional. Cercada por câmeras e painéis, vozes indagavam o que tinha acontecido, porque ela estava andando na zona proibida.

Carol respostava que queria apenas comprar um pão e tomar seu cafezinho. O comando determinou que ela ficasse recolhida até saber o que aconteceu.

No recolhimento encontrou jaqueline, que preferia ser chamada de Jackie, outra desertora, que estava ali há bastante tempo, tinha fugido do Departamento do trabalho humano, uma missão quase impossível. Naquele instante Jackie, presa há 12 anos, muito arredia,  queria saber como ela havia escapado.

Carol falou que só queria comprar um pão. Jackie ria muito, pois não sabia o que era pão e falou que só fugiu porque conseguiu desprogramar um “fergon” e entrou em sua pele artificial. Mas como ficou folgada, as câmeras detectaram um movimento esquisito na saída do segundo setor por onde passam os trilhos.

Carol começou a chorar, pois não entendia bulufas, até sua roupa era esquisita. Sim, o ano era 2202 mesmo. O mundo foi tomado por outras criaturas que com outras tecnologias transformaram tudo. O que restou de humanos estavam no setor D, só trabalho manual.

Ninguém andava em ruas. O mundo controlado era escasso, seco, não existia nada além de pontes, trilhos e instituições tipo palácios, as línguas eram monitoradas e traduzidas simultaneamente, o controle estava nas mãos dos SIRONGS, mas a qualquer momento poderia mudar, pois o universo vivia em constante mutação, uma hora alguém de outro planeta extrassolar conseguia reprogramar a frequência do outro e fazer a tomada do planeta Terra.

Os humanos foram confinados, o que restava deles não reproduzia, apenas um pouco vivia em outro espaço para reprodução assistida para não exterminar a raça totalmente.

Humanoides e animaloides eram mantidos em setor separado, um verdadeiro museu de cópias, quase um outro planeta terra onde simulava tudo o que já aconteceu e existe em tempo real. Jackie aconselhou a Carol que não falasse, que não emitisse sons, pois com esse bom comportamento seria enviada para o museu e assim teria uma vida “normal”. Carolina o fez.

Não emitiu uma gota de fluido corporal. Parada ficou. Parada dormiu. Parada acordou e sem saber quanto tempo levou, olhou para o seu celular e viu que o ano era 2022. Despertou, saiu de fininho, era cedo, não tinha quase ninguém na rua, somente a padaria da esquina que estava levantando a porta de ferro como de costume. Sentou-se à mesa e pediu um pão daqueles morninhos que sempre deixava a sua mão suada.

Carol comeu seu pãozinho delicioso com manteiga, agradeceu a Deus por ter despertado daquele pesadelo, só achou estranho os pães estarem todos perfeitamente iguais e não havia uma gota de suor entre os seus dedos! Feliz Ano Novo!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB