João Pessoa, 04 de janeiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O Piauí faz parte de mim. Pelo afeto a uma tia que lá morava e ao amigo Alexandre. Ultimamente, por causa de uma excelente funcionária da Coordenação de Medicina que veio de Parnaíba. Lá onde existe o Delta, Joyce nasceu para fazer tudo bem-feito e com esmerada competência. Um certificado para Joyce, urgente!
De lá, de Piripiri, veio João Cláudio Moreno. O melhor humorista do país. Não só isso, um intelectual de grande profundidade, um pensador, cuja biblioteca tinha 14 mil volumes, quando livro era aquela coisa de papel. Um imitador que incorpora Gonzagão e canta como ele cantava. Que fala e canta como Caetano, de quem tomou a voz e o jeito para interpretar o Caretano nos tempos do Chico City.
Acompanho muitas coisas do João Cláudio. Suas esquisitices, seus sumiços, sua recusa de deixar o Piauí fosse para se tornar um artista nacional ou para enricar. Chegou a perguntar a um amigo: – Que adianta ganhar muito dinheiro e viver longe do Piauí?! Foi do PC do B, convidado pelo ator Francisco Millani. É religioso e crente, contradições que vamos encontrar nos que viveram o romantismo dos anos 1960.
Há uma outra estrela no Piauí. Um pirralho que incendiou a Internet com seu humor sarcástico, falando de coisas rotineiras. Wanderson Nunes (foto) dominou tudo. Milhões de seguidores. Shows, muitos shows. Dinheiro. Muito dinheiro. Avião particular.
A ex-mulher é cantora, no vão do seu sucesso. Separado, tentou outra relação que fracassou novamente. Winderson se deprimiu. Se afastou. Saturou. Agora veio o pior: se declarou usuário de drogas.
Winderson não tinha estruturas fortes que lhe garantisses virar celebridade, e com tanto acesso repentino. Capotou! Assim como degenerou um dia Dieguito, ele não conseguiu construir uma relação afetiva. Dependente de ilusões, anuncia sua aposentadoria para daqui a dois anos.
Torço por ele. Por ser nordestino, pobre e vencedor. Por ser humorista, e quem faz rir, não pode viver em meio ao sofrimento, principalmente, mental. Sinto pelo vazio, a tristeza, a droga, o bonde mais errado que ele poderia pegar.
João carrega o peso da herança dos anos 1960. O imaginário da fraternidade, da igualdade, de todas as transformações que fizeram de Winderson um vencedor e, ao mesmo tempo, um homem confuso e perturbado. Também torço por João Cláudio, abarrotado com as transformações sociais dos últimos 50 anos e as modificações dos costumes. De modos diferentes, torço pelos dois filhos do “meu” Piau para que não sofram com suas sublevações.
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