João Pessoa, 04 de janeiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Dalva é a estrela

Comentários: 0
publicado em 04/01/2022 ás 07h51
atualizado em 04/01/2022 ás 10h47

Às vezes eu uso muitas vezes a expressão às vezes e às vezes fica sendo quase sempre, quase nada, mas não crio expectativas. Só às vezes.

Fui em Tambaú no segundo dia do ano, encontrar com Dalva, a moça da banca da revista. Ela estava com a esperança tardia em tudo e expectativa em nada. É assim, né Dalva? “É Seu Kubitschek, a vida é dura”

Cadê os louros, Dalva? “Os louros só aparecem na prosperidade, Seu Kubitschek, mas não crie expectativas”.

Não gosto quando Dalva me chama de Seu Kubitschek, mesmo que seja eu. Vou começar a chamá-la de Dona Dalva.

Eu tenho essa mania de ir à praia de Tambaú aos domingos, praia inicial da minha vida, observar o movimento dos barcos, como quem procura outros planetas ou notícias do mundo de lá, porque nem sempre quem procura acha. Às vezes, sim. Mas não perco a viagem. Vejo Dalva, os capitães de areia e o mar.

(parênteses) O Hotel Tambaú na nossa frente e mais parece um hospício. Era tão bonito. Tudo se acaba, né Dalva?

Dalva se modernizou e me perguntou se eu tenho uma Alexa em casa? “Pergunte, quais as notícias do dia, que ela responde”.  Ela quem, Dalva? Não, não tenho Alexa. Eu tenho Alex que mora na Flórida e mandou o “Coco” de Caetano.

Às vezes eu enfrento pancadarias. Não de Dalva. Não adianta, não existe fórmula mágica, viver é trabalhar e trabalhar pode ser (des)confortável, mas se não trabalhar, não temos como sobreviver.

“O senhor escreve todos os dias?” Olha Dalva, se você ganha dinheiro com aquilo, mesmo sendo cansativo, você provavelmente vai ter um melhor desempenho e rotina.

Dalva não reclama da vida. Ela sempre diz que jogar na sena é desperdiçar a sorte. Ô sorte de ter uma amiga como Dalva, que não tem tempo de bloquear a cena.

Se você não ganha nada, se você só quer contar uma boa história, sua psique vai criar mil e uma artimanhas para te manter longe desse ciclo chato e cansativo. Não existe glamour em escrever, é só trabalho.

É legal criar conceitos de histórias em sua cabeça, mas executar isso, preenchendo a página do computador, não é fácil. Às vezes a gente empaca.

Quero reler “A Montanha Mágica” de Thomas Mann, como se lesse pela primeira vez porque não tenho registro de alguma vez ter lido até me dar conta que eu já o tinha lido. Às vezes, esqueço, às vezes lembro. É um tijolão com 848 páginas.

Eu sei, porque já aconteceu comigo de estar sempre no cânone – de “Memórias Póstumas de Brás Cubas’ de Machado, desde os 17 anos; reli aos 18 e a impressão foi completamente diferente.

Essa mesma estrela Dalva, quando quer, se transforma em Vênus, Deusa do Amor (foto) ou Planeta e assim transforma o que é para ser transformado além da escultura.

Tudo a seu tempo. A montanha mágica pode me esperar, avisa lá que eu vou, Dalva!

Kapetadas

1 – 100% dos assuntos mais comentados na Internet é sobre a vida alheia. Vai dar muito certo o ano, pow!.

2 – Engolir tudo é pior do que beber todas.

3 – Som na caixa: “Louvado seja Deus/Ó meu pai”, Caymmi

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB