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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

2022 já vai longe

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publicado em 05/01/2022 às 07h19

Djanildo sobreviveu ao ano banhado em incertezas, diversas crises, ameaça de volta da Covid-19, riscos na tecnologia, etc. Djanildo era um apaixonado por praia, tanto que convenceu seus amigos todos, inclusive eu, a passarmos Réveillon em Natal no Rio Grande do Norte.

Desisti e preferi passar a virada do Ano Novo em família, em especial com a minha mãe, falei pra ele que o encontraria junto com nossa turma no sábado, pós-Reveillon, pois as festas continuariam!

Djan mandou e postou vários vídeos, era a alegria da turma, estava feliz na sua profissão, tinha sido transferido com melhor salário e poderia morar numa casa na praia à beira-mar e jogar beach tenis seu esporte amado quase todos os dias.

A empolgação tomou conta do seu último dia do ano de 2021, andou por todos os recantos da festa que acontecia num hotel frente ao mar, pé-na-areia como dizem.

Djan estava com a pulseira que dava direito à área vip, mas preferiu a fuzarca democrática dos transeuntes mais carnavalescos e de menos carão, era muita gente alegre em um só lugar.

Riu, chorou, se divertiu como nunca, se esbaldou na bebedeira, já que era “open bar”, portanto experimentou todos os drinks possíveis à base de Gin, o queridinho da moda, à medida que a maré subia, ele bebia mais um pouco e se sentiu impossível e inabalável.

A única dose que ele lembrava era da vacina, pois já tinha tomado as tais três doses, passado incólume por um governo desastroso, influenza, uma inflação galopante, enfrentado toda uma pandemia com suas perdas de parentes e traumas psicológicos, bugs de rede social, a polarização na política, tantos outros problemas, por isso resolveu beber mais para comemorar, pois como dizia sua avó, tínhamos que aproveitar todo dia como se fosse o último. E ele assim o fez!

Resolveu tomar mais gin tônica, sua bebida preferida, mais uma da série de dezenas e ficou atônito. Mal ficava de pé às 4:30, no fim da festa, se dirigiu com sua taça ao hotel que estava hospedado ao lado da celebração e começou a sentir sede, já tinha perdido a chave de casa, do quarto, do carro novo que acabara de pagar, perdeu a fala, até o celular se foi.

Procurou a carteira e nada, desceu um pouco mais, sem noção dos seus movimentos, só sentia sede, muita sede, perdeu o caminho do quarto e se viu em frente a um grande chacoalhar de águas no final da falésia, era ali o refúgio perfeito pra aplacar sua vontade de água. A sede era tanta que se ajoelhou agradecendo a Deus a fartura e uma forte onda arrebatou seus sentidos.

Não foi dessa vez que pulou as sete ondas, Djan foi achado por pescadores a metros dali, para nossa surpresa assim que chegamos cedo ao seu encontro no hotel, fomos avisados que ele foi encontrado e já estava com um saco preto envolvido em seu corpo e a taça de gin intacta entrelaçada entre sua camisa de linho branca.

A família já havia sido avisada do acidente fatal. Chocado, paralisado,  permaneci por minutos. Uma lástima, das pesadas! A única coisa que pensei, foi que pelo menos Djan “morreu na praia”, seu lugar de costume, com seu drink predileto, realizado profissionalmente, como sempre sonhou.

Preferi pensar assim do que estragar o positivismo do começo de ano!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB