João Pessoa, 21 de janeiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Nem sempre bons livros nos cativam. O contato inicial que muitos jovens brasileiros têm com os clássicos, na escola, em leituras engessadas e de pouca liberdade interpretativa, por vezes estigmatiza as obras. Sabe-se a importância do texto literário, mas não se desenvolve apreço por ele.
Não é necessária, contudo, uma experiência traumática para nos afastar de um autor. Pode faltar apenas empatia. Minha primeira leitura de Elena Ferrante (foto), pseudônimo de escritora cuja identidade é um mistério, foi A Amiga Genial, volume inicial da tetralogia napolitana. Nele, acompanhamos duas amigas que moram em Nápoles, nos anos 1950. Da infância à adolescência, elas brincam, brigam, sonham e veem suas vidas tomarem rumos distintos, já que apenas uma consegue acesso ao poder transformador da educação.
Embora Ferrante crie uma Itália viva, com personagens palpáveis, eu não consigo me conectar com as obras dela. Reconheço o mérito de levar assuntos delicados à tona, como pobreza, violência e dificuldade de acesso à educação, mas a forma de discutir tais tópicos não me desperta empatia. Nem mesmo as adaptações de Ferrante me cativam. É fato que Olivia Colmann está magistral em A Filha Perdida, mas a obra não me sensibilizou tanto quanto esperava. Valeu a exibição por acreditar em (mais) uma indicação ao Oscar para a atriz.
A ambivalência da prosa da autora, embora não me envolva, vem hipnotizando diversos leitores ao redor do mundo. A graça da Literatura não está na pluralidade narrativa e em todas as possibilidades que ela desperta? Não é porque não gosto que não reconheço o valor. Nesse sentido, me posiciono como a escritora Luisa Geisler, que encontra uma semalhança entre livros e David Bowie: se procurar bem, tem um gênero que agrada a qualquer um.
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OPINIÃO - 22/11/2024