João Pessoa, 26 de julho de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O governo brasileiro decidiu atender ao pedido do governo do Haiti e ajudar na formação de uma nova força de segurança no país caribenho. A decisão foi comunicada pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, em reunião hoje (26) com o ministro haitiano da Defesa, Jean Rodolphe Joazile.
De acordo com o Ministério da Defesa, nas próximas semanas, o Brasil deverá enviar ao país uma missão com integrantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para estudar formas de ajudar o país. "É um pedido do governo do Haiti de nós cooperarmos nessa linha. Estamos, agora, começando a trabalhar nas modalidades de como essa ajuda pode ser prestada", declarou o ministro da Defesa Celso Amorim, após um almoço com as autoridades haitianas.
Não haveria ajuda, segundo Amorim, se o governo brasileiro não tivesse obtido do governo haitiano a garantia de que o Exército do país não funcionará como "milícia pessoal", como ocorreu no passado, quando o país foi governado por ditaduras sangrentas. "Essa preocupação existe e o ministro [Jean Joazile] me deu garantias de que não se trata de restituir o antigo Exército que tem contra ele essas acusações e nem de um modelo que funcione como uma milícia pessoal", disse.
Uma forma de apoio já cogitado pelo governo brasileiro seria a de abrir vagas para que militares haitianos pudessem cursar engenharia no Brasil. "Essa ajuda teria o objetivo de dar um caráter efetivamente profissional, institucional a essa força e, mais importante ainda, começando por uma área que é de grande interesse para o Haiti, que é a engenharia militar, com implicações para a defesa civil", explicou Amorim.
A iniciativa de formar uma nova força de segurança é uma das principais estratégias do governo de Michel Martelly, presidente que tomou posse no ano passado. Há 17 anos, as Forças Armadas do Haiti foram dissolvidas após sucessivos golpes militares e uso político do aparato militar. O presidente haitiano chegou a tratar do assunto diretamente com a presidenta Dilma Roussef, em janeiro deste ano, quando ela visitou o país.
A colaboração acertada hoje ocorrerá simultaneamente ao movimento de diminuição da participação brasileira na Força de Paz das Organizações das Nações Unidas (Minustah), que está no país desde junho de 2004. Atualmente, 2 mil militares brasileiros participam da Minustah e a intenção do governo é reduzir esse contingente para mil, patamar que havia antes do terremoto que atingiu o país em janeiro de 2010. O Brasil, que tem a liderança da Minustah, chegou a ter 2.250 militares no Haiti.
Apesar de haver consenso na comunidade internacional de que a força da ONU é necessária, sua presença no Haiti também enfrenta críticas, já que não contribui para que o país caminhe com as próprias pernas. A avaliação do governo brasileiro é a de que a presença das tropas deve diminuir gradativamente. "Não sei em quanto tempo será, mas o processo de redução [do contingente] da Minustah já começou e vai continuar. Ficaremos lá o tempo que for necessário, mas, como eu sempre tenho dito, não é bom nem para o Brasil, nem para a ONU, nem para o Haiti que as forças estejam lá de maneira permanente", observou o chanceler brasileiro.
Amorim defendeu a necessidade de formação de uma força militar no Haiti capaz de assumir as ações desempenhadas hoje pela força de paz. "Havendo essa redução, evidentemente tem que haver alguma capacidade local para lidar com os problemas de segurança”, disse.
O ministro destacou as áreas nas quais o Haiti quer ser preparar com o objetivo de reconstruir o país. “O Haiti está preocupado também em proteger suas fronteiras, em guardar sua costa marítima, ser capaz de atuar na área de defesa civil. Infelizmente, é um país muito sujeito a desastres naturais. O terremoto de 2010 foi o evento mais conhecido, mas há também enchentes inundações, furacões”.
Agência Brasil
OPINIÃO - 22/11/2024