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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Bairro, estado, amigo, amor

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publicado em 01/02/2022 às 07h32
atualizado em 01/02/2022 às 04h51

Guardo comigo segredos, que faço questão de não compartilhar e que considero quase sagrados, justamente por sua insignificância. Bobagens.

As minhas idas uma vez por semana ao Bairro dos Estados, é um deles. Não interessa o que vou fazer lá, mas saio da Avenida Amazonas, levitando.

Quem me dera ser Drummond que tinha uma amante no Arpoador, uma amante wonderful, que fazia o poeta ter mais vida, mais versos, mais longevidade.

Quando estive no Bairro dos Estados pela primeira vez, fui procurar a Avenida São Paulo, que é como o mundo todo e é verdade, no mundo, um grande amor perdi, não exatamente como está na canção do Caetano.

Eu amava uma mulher, cachos e cabelos dourados que morava perto da casa de Dona Ieda Moura. Não sei por que eu a amava tanto, se hoje ela nem me olha, nem atende meus telefonas: “atenda meus telefonemas, eu preciso ouvir a sua voz, é difícil eu sei o que sofrer de amor” .

Final dos anos 70, eu ia todas as noites ao Bairros dos Estados, encontrar as irmãs Dina, Sadoia, Nely, Ana e Paula, que moravam lá. Eu ia jantar na casa delas. Sou grato.

Chegava na Avenida Espirito Santo, passava antes pela Piauí, entrava na esquina da Goiás, que tinha uma casa de primeiro andar. Era a casa mais bonita. Eu adorava a lasanha de Joaninha.

Nunca vi uma igreja no Bairro dos Estados, mas lembro do supermercado Jumbo, que ficava de costas para o bairro.

Saudades de Seu João Jardelino da Costa e Dona Tezinha, que moravam numa casa americana, com milhares de garrafas de uísque no forro.

O primeiro LP de Maria Bethânia ganhei numa noite de ano novo, de uma amiga que morava na Avenida Maranhão. Ô rua comprida. Ô saudade.

Apenas um prédio me cativa até hoje, o Recanto das Oliveiras.

E as mansões? Coisa de cinema: a do garoto Artur Cruz, com festas homéricas, a piscina transbordava de champanhe e a banda tocava a noite toda. Artur morreu sozinho.

A outra mansão, de Augusto e Fátima Almeida era bucólica, com muitas árvores, um sitio dentro da cidade e animais a se perder de vista. Fui poucas vezes, levado por Augustão. Inesquecíveis, ele, Fátima e a casa.

Quando me casei aconteceram duas festas: uma no entardecer na casa da tia da F, na Avenida Minas Gerais, com um bolo lindo. A outra a festa foi imodesta.

Nas imediações ficava a Fazenda Boi Só, de Lua Almeida e o Ginásio Dede, onde Pelé fez o 999 gol.

Na Avenida Bahia penso nos Novos Baianos, na Pernambuco costumo ouvir a bruma leve das paixões de Alceu Valença e para entrar também no Samba,  na avenida Rio de Janeiro, aquele abraço pra você que me esqueceu.

Nunca fui na avenida Paraíba, mas mando um abraço pra ti, Alexandre Leite, bairro, nome, amigo, amor.

Na Avenida Rio Grande do Sul escutava Lupicínio Rodrigues cantar, “eu agradeço essas homenagens que vocês me fazem”. LR tinha uma amante em Bento Gonçalves.

E o que mais? Nada.

Até lá. Onde? Ah, Tambauzinho, onde dormi muitas noites…

Kapetadas

1 – Sua Excelência, nossa indigência.

2 – Daqui onde estou dá pra ver o seu ponto de vista saindo pela sua opinião infundada

3 – O som na caixa está dentro do texto.

4 – A foto Alvorada do Bairro dos Estados  de Melciades Brito

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB