João Pessoa, 07 de fevereiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A cada dia que passa, vemos o ser humano correr em busca de mais dinheiro, esquecendo ou relegando a um segundo plano a sua condição humana, nas formas da solidariedade e do amor ao próximo. As tragédias anunciadas de Mariana e Brumadinho, e a ameaça real de rompimento de novas barragens, além de outros danos ambientais provocados pela mineração e pela exploração de outros recursos naturais são exemplos disso.
Junte-se a isto a ambição política – da má política – para se chegar ao poder, com a intenção de se juntar à rapinagem do Estado. Não esqueçamos também os que, seduzidos pela ganância e pela ambição, em lugar de atuarem como agentes preservadores e aplicadores da lei, se corrompem com a venda de sentenças. Este tipo já era condenado por Hesíodo (foto), no poema Trabalhos e dias, sendo apontados como “comedores de presentes” (δωροφάγοι), que não devolvem à justiça senão sentenças tortas (verso 221).
Este comércio danoso da alma com o corpo, sendo muito efetivo, como diria Platão, torna a alma cada vez mais prisioneira e pesada, incapaz de alçar-se até a Planície da Verdade, pesam-lhe as asas e ela cai novamente na materialidade de que se torna difícil escapar, enquanto não praticar diariamente o exercício da justiça – a δικαιοσύνη.
Vive-se, cada vez mais, uma busca desenfreada por dinheiro e bens materiais nem tanto para viver ou para sobreviver, mas para a ostentação, por amor ao luxo e ao supérfluo. Com isto, esquecemos do que viemos fazer aqui nesta vida, aprisionando-nos a um ciclo sem fim, por falta de força para quebrar o condicionamento que nos aferra à matéria.
De modo sintético, um poeta latino faz a advertência para essa nulidade que nos compromete. Poeta essencialmente lírico-erótico, fazendo a profissão de fé da poesia lírica, em detrimento da épica, Propércio (47-14 a. C.) prega a luta amorosa como a única luta a venerar a paz – “Pacis Amor Deus est” (Amor é Deus da Paz), diz ele.
Criticando os que têm sede de ouro e riquezas, Propércio nos dá, com dois mil anos de antecedência, a versão popular do “caixão não tem gaveta”, no dístico elegíaco abaixo (Livro III das Elegias, Elegia V, versos 13-14):
Haud ullas portabis opes Acherontis ad undas,
nudus at inferna, stulte, uehere rate.
Não portarás riqueza alguma pelas ondas do Aqueronte,
mas, tolo, nu, serás transportado na barca infernal.
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TURISMO - 19/12/2024