João Pessoa, 08 de fevereiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

Freud e a homossexualidade

Comentários: 0
publicado em 08/02/2022 ás 07h14

Embora Freud tenha revolucionado a visão sobre as doenças e transtornos mentais em geral, suas teorias trouxeram embutidas crenças que predominavam à época, com relação a alguns temas tipo a posição da mulher, ou a homossexualidade, o que levantou algumas suspeitas sobre sua posição.

No entanto, uma carta sua, em resposta à mãe de um jovem homossexual, demonstra a visão mais ampla e despreocupada, na defesa das pessoas e da homossexualidade como condição de um sujeito.

Diz ele: “Lendo sua carta, deduzo que seu filho é homossexual.” E questiona a mãe porque ela, em nenhum momento, se refere diretamente a esse fato, explicitando para ela que “não existe motivos para se envergonhar dela [a homossexualidade], já que isso não supõe vício nem degradação alguma”.

E, logo ali, já adianta o que só viria a se tornar realidade nos anos 80, que a homossexualidade (que permaneceu um diagnóstico entre alterações da personalidade ou perversões, do ano de 1945, CID 6, ao ano de 2001, quando, no dia primeiro de janeiro, foi promulgada a CID 10). Logo ali afirmou, peremptoriamente, que “Não pode ser qualificada como uma doença [a homossexualidade], e nós a consideramos como uma variante de função sexual, produto de certa interrupção no seu desenvolvimento.”

Lembrou, também, àquela mãe aflita que “Muitos homens de grande respeito da antiguidade e atualidade foram homossexuais e dentre eles, alguns dos personagens de maior destaque na história como, Platão, Miguel Ângelo e Leonardo da Vinci […].

Freud também apontou a “grande injustiça” e a “crueldade” de eventuais perseguições a homossexuais, como se eles tivessem cometido algum delito. E mais: o cientista, também se manifesta sobre a impossibilidade de abolição ou cura da homossexualidade. Ao analista, cabe proporcionar-lhe, “tranquilidade, paz mental e plena eficiência, independente da sua condição”. Considerando a época em que o pai da Psicanálise escreveu essas opiniões, é de se aplaudir e dar vivas ao pensador Sigmund Freud, pois se observa que suas premissas, de tão longe, são evidências nos nossos dias.

Conforme afirmou, a única coisa que devemos fazer é proteger o indivíduo que nos procura das sanções e incompreensões que a sociedade, vendo-se superior, impõe a minorias e desvalidos. É que ela se acha melhor que alguns e no direito de julgar ou condenar quem não se enquadra naquilo que defende ser certo ou normal. Como se fôssemos melhores que eles. Você é?  Eu não sou.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB