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Elza Gomes da Conceição (foto) veio ao mundo para fazer a diferença. Contrariou as estatísticas e se fez importante apesar da origem pobre, da cor preta e do gênero feminino. Elza Soares, como ficou conhecida, continuou importante décadas após seu sucesso inicial, fazendo jovens se interessarem pelo que ela tinha a cantar ainda hoje, não vivendo de um saudosismo pelo que já representou. Nos últimos anos, Elza se reinventava em parcerias com artistas contemporâneos, como Pitty e Liniker.
Em seus mais de 90 anos vividos, Elza experimentou quase todas as dores que podem ser infligidas a um ser humano: passou fome, enterrou seus filhos, viveu relacionamentos abusivos. Mesmo assim, se sobressaiu pela arte, pela voz potente e pelo poder de denúncia que suas canções carregavam. O sofrimento virara matéria-prima da arte, como quando cantava sobre violência doméstica: “Cadê meu celular? Eu vou ligar 180”.
Apesar do sucesso e da relevância cultural, algumas manchetes de jornais que noticiavam o falecimento de Elza fidentificaram-na meramente como ex-mulher do jogador Garrincha. Reduzir a existência de um patrimônio cultural, como foi Soares, a um relacionamento altamente conturbado mostra que ainda é preciso conhecer muito sobre a cantora. Para isso, a biografia Elza, escrita por Zeca Camargo, é um bom ponto de partida.
Camargo faz jornalismo sobre música desde os primórdios da MTV Brasil, mas a contemplação da vida e da obra de Elza Soares compõe seu primeiro livro biográfico. Não é de grande valor literário: o prólogo já começa estranho, tentando realizar um forçado jogo imagético de palavras. Todavia, é de grande valor humano. Se a história me fosse contada como ficção, talvez eu a achasse forçada. Elza sobreviveu às múltiplas faces da violência e do preconceito. E entre todos os percalços da vida, ela fez música de qualidade impressionante. Descansou a voz da mulher, ainda não veio o fim do mundo.
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TURISMO - 19/12/2024