João Pessoa, 12 de fevereiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Meu colega escritor Ariano Suassuna uma vez contou que em seu tempo de estudante existiam apenas 3 opções de cursos universitários. Quem gostava de abrir barriga de lagartixa ia estudar medicina. Os bons em matemática seguiam o curso de engenharia. Os que sobravam estudavam direito. No caso dele deu num péssimo advogado. Seu primeiro emprego foi no mais renomado escritório de advocacia de Recife, do Dr. Murilo Guimarães.
Deu-se que um dia estava sozinho no escritório e tocou o telefone. Os que conheceram Ariano sabem que ele só atendia o telefone se fosse seguido o ritual básico. Primeiro o alô, depois a identificação de quem estava falando e só então o assunto. Naquele dia alguém ligou e ele atendeu. O cliente não disse alô, apenas perguntou quem falava. “-Ariano Suassuna”, ele respondeu. Do outro lado o cliente disse: “- Desculpa, não é para aí não”. E desligou o telefone.
Ariano imediatamente entendeu que cometera um erro; com certeza a pessoa queria falar com Dr. Murilo, o titular do escritório. E logo em seguida o telefone tocou novamente. Todo atrapalhado Ariano atendeu e quando a voz (mais uma vez sem dizer antes o tradicional alô) perguntou quem falava, Ariano disse “- Murilo Guimarães”. Então o cliente entrou na conversa. “- Bom dia Murilo, como vai você?”.
Apavorado Ariano tentou consertar a situação: “- O senhor me desculpe, mas eu não sou Dr. Murilo não”. Do outro lado o cliente quis saber: “- E por que você disse que é Dr. Murilo?”. Ariano explicou: “- É que quando eu digo meu nome o senhor desliga na minha cara”. Houve uma pausa e o cliente pediu para chamar Dr. Murilo, ao que Ariano informou que Dr. Murilo não estava. O cliente perguntou se Doutor Murilo demoraria muito a chegar e Ariano explicou: “- Eu acho que demora, porque ele está na Europa”. O cliente enfurecido perguntou a Ariano porque ele não dissera logo que Dr. Murilo estava na Europa. “- E o senhor perguntou se ele estava na Europa?”. O cliente já prestes a explodir perguntou se havia algum auxiliar do Doutor Murilo no escritório. Ariano confirmou. O cliente perguntou então quem era o auxiliar. Ariano disse que era ele mesmo. “- O senhor? O senhor não sabe atender nem um telefone… quer um conselho? Deixe esse negocio de advocacia que o senhor não nasceu para isso não”.
Ainda bem que Ariano seguiu o conselho.
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OPINIÃO - 22/11/2024