João Pessoa, 14 de fevereiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Miro-me no espelho e vejo já em meu corpo os primeiros traços do idoso que talvez eu nunca venha a ser. Curiosamente, lido melhor com ele hoje do que quando tinha meus 17, 18, 20 e poucos anos. O tempo já o deixa levemente curvo, afinou minhas pernas, deixou formas mais retas, menos eretas, nem por isso menos elegantes. A pele já não tem o mesmo viço e linhas retas e curvas redesenham meu rosto. Pêlos brancos nascem na cabeça e na face como os pubianos surgiam espantosamente em eras adolescentes.
Tenho mais força nos braços do que nas pernas em comparação aos anos passados, mas sei que isso não é duradouro. Ainda exibo raras espinhas que me lembram que não posso deixar de ser menino. Os olhos já não têm mais a mesma facilidade de enxergar as pequenas letras de embalagens e livros, mas seguem percorrendo-os com cada vez mais curiosidade, embora haja bem menos precipitação.
O tempo passa, nós passamos, cada vez que um segundo avança nos aproximamos mais da despedida. E mil perguntas me vêm à cabeça. O que deixarei de bom por aqui? E se deixar algo, servirá de quê? Irei mesmo para outro lugar, ou o fim é mesmo o fim? Quando descobrir as respostas não poderei contar a ninguém, cada um terá de descobrir por si só. O que me dá uma sensação de solidão plena. Sem angústias, sem melancolias. Solidão na exata acepção da palavra, se é que ela encerra um único sentido e significado. Mas se a resposta for sim, é o que sinto neste momento e certamente voltarei a sentir no momento final.
Blog Eduardo Lamas: www.eduardolamas.blogspot.com
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