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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

V a n d e r l i t a inesquecível

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publicado em 19/02/2022 ás 08h43
atualizado em 19/02/2022 ás 09h45

Vivemos distraídos, agarrados aos celulares, como se o mundo estivesse entre nossos dedos… aí chega uma mensagem triste dizendo que Vanderlita Neves tinha partido. Era hora dos anjos, e a luz acesa amarelou.

Puxa vida! Que teimosia! Logo procurei uma foto bonita minha com ela e posto no Instagram. Ou seja, nós estamos à deriva há muito tempo. Às vezes no escuro e adormecemos com essas luzes minúsculas eletrônicas dentro do quarto.

Há muito comunicamos uns aos outros, que perdemos pessoas queridas pelas redes socais, presos que estamos nesse mundo infernal da tecnologia.

Vanderlita é i n e s q u e c í v e l.

Ela e seu marido, o desembargador Evandro de Souza Neves, eram amigos de meus pais. Minha mãe achava ela uma mulher bonita e sempre bem vestida. Minha mãe tinha bom gosto. Eu também. Vanderlita, nem se fala.

Vanderlita deixou o vácuo na cidade.

Eu queria fazer um recital de flores para ela. Parece que estou vendo Vanderlita no mar do Bessa, dirigindo seu carro, acenando.

Aqui onde escrevo, no recanto dos livros e discos, vou buscando a presença dela. Vanderlita nunca envelheceu, falava ao telefone comigo com uma voz de menina e me chamava de Kubí, como se tivesse um acento na letra i. Eu tinha assento na casa dela.

Tivemos muitos momentos juntos. Comi bastante lagostas, feijão verde e risotos na casa de Vanderlita.

Quando pedi a ela para falar com o marido Evandro, ( Presidente do TJPB) para me levar para o Tribunal, ela disse: “Você não precisa me pedir isso”. Estou lá até hoje – acho que isso já passa dos trinta anos.

Vanderlita virou uma lembrança, um clarão, eterna de plena certeza de que viveu o bastante para o destaque que representou.

Na verdade, temos agora as horas trocadas, enigmas perpétuos, o nome dela transcrito em mim, um olhar que elevava meu sonho de menino do sertão.

Quando Vítor nasceu, ela foi a primeira a chegar na Maternidade Clim.

Dei  Vítor ela para ser madrinha e o padrinho, o pediatra João Medeiros.

No dia seguinte a sua viagem, acordo e vou caminhar no mar, onde faço meditações sobre a imensidão da singularidade da vida e, nessa caminhada me renovo, esqueço do celular,  das dores e ausências. Ô tempo difícil. E agora mais ainda, sem Vandinha.

A última vez que nos encontramos numa festa, (ela adorava festas e eu também), foi no casamento da filha de Selda e Edson Pereira, no Casa Roccia, quando fizemos essa foto que ilustra a coluna.

Na saída, pedi carona, ela já estava de carona, com uma amiga, num carro sofisticado e eu tinha tomado vários drinks “moscow mule” e comecei a viajar, viajar, viajar entre o céu as luzes da avenida Epitácio Pessoa. O resto, é segredo.

Nesse calor, um frio na barriga, um gole do café levemente nos lábios, coisas assim, nesse estranho viver.

Estou triste, mas algo me diz que ela está  novamente a brilhar, a nascer estrela noutro azul.

Obrigado, Vanderlita, muito obrigado. A lâmpada continua acesa, viu?

Kapetadas

1 – Vanderlita é quem não morre nunca. Ela ganhou o horizonte.

2 – O texto é dedicado a Mônica, Juarez, os Evandros filho e neto, Milena, Renan, noras, genro e os outros netos. E aos amigos que amam Vandinha.

3 – Som na caixa : “Toda mulher gosta de rosas e rosas e rosas”, Ana Carolina

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB