João Pessoa, 23 de fevereiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O presente artigo é uma breve análise da geração nem-nem no Brasil. No terceiro trimestre de 2021, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 11,6 milhões de jovens entre 15 e 29 anos de idade que nem estudam e nem trabalham nas cinco regiões do País, ou seja, 23,7% da população total nesta faixa etária.
No levantamento dos números nacionais da Consultoria IDados e divulgados em 10 de fevereiro de 2022 pelo jornal Valor Econômico, são oito estados brasileiros com proporção acima de 30% de jovens nem-nem: Maranhão (36,0%), Amapá (34,9%), Alagoas (34,1%), Acre (32,2%), Pernambuco (31,5%), Paraíba (31,4%), Rio Grande do Norte (30,8%) e Ceará (30,1%).
São 11 estados brasileiros e o Distrito Federal com proporção acima de 20% até 30% de jovens que estão simultaneamente fora do sistema educacional e do mercado de trabalho formal: Sergipe (29,7%), Roraima (28,2%), Bahia (27,9%), Amazonas (27,2%), Pará (26,6%), Piauí (25,9%), Rio de Janeiro (25,2%), Tocantins (24,5%), São Paulo (20,6%), Goiás (20,3%), Espírito Santo (20,2%) e Distrito Federal (20,2%).
Apenas sete estados brasileiros com proporção entre 10% e 20% de jovens que nem estudam, nem trabalham: Minas Gerais (19,9%), Mato Grosso (19,0%), Rondônia (18,9%), Mato Grosso do Sul (18,7%), Rio Grande do Sul (17,4%), Paraná (16,9%) e Santa Catarina (13,1%).
Infelizmente, os números ainda escancaram que a Paraíba ocupa o lugar do sexto pior estado no ranking brasileiro e na quarta colocação no ranking nordestino, com 31,4% de jovens nem-nem nos 223 municípios paraibanos.
No País temos jovens que procuram emprego, os desocupados, e os que não procuram emprego, os desalentados. O comportamento dos jovens desalentados e a degradação familiar afetam também o crescimento dos jovens nem-nem no Brasil, o país mais rico da América do Sul, com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 3,2 trilhões PPC (paridade do poder de compra), segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
No Brasil temos jovens que não frequentam escola ou universidade e nem estão empregados e que pertencem as famílias que recebem de 2 a 4 salários mínimos por mês, a classe D, ou, que ganham até 2 salários mínimos mensais, a classe E (IBGE). As classes D e E são a classe pobre e compõem 51% dos lares brasileiros. É preciso romper com o círculo vicioso da pobreza no País.
Pode-se apontar dez causas pelo elevado número de jovens nem-nem no Brasil: (i) o baixo crescimento econômico; (ii) a pandemia da COVID-19; (iii) a baixa escolaridade; (iv) a baixa qualificação; (v) o alto desemprego; (vi) a alta carga tributária; (vii) o aumento da pobreza; (viii) o crescimento da violência; (ix) o aumento do endividamento; e (x) os obstáculos à liberdade econômica.
Com o Índice de Liberdade Econômica 2022 de 53,3 pontos, segundo a Heritage Foundation, desde 1995 o Brasil continua sendo um país classificado majoratiramente não-livre, na categoria de 50 a 59,9 pontos. Para o Brasil o pior ano foi em 1996 com 48,1 pontos (reprimido) e o melhor ano foi em 2003 com 63,4 pontos (majoratiramente livre). E o Brasil encontra-se no 133° lugar entre os 177 países analisados e na 26ª colocação entre as 32 nações analisadas nas Américas (HERITAGE FOUNDATION, 2022).
O PIB per capita brasileiro é de US$ 14.916 PPC em 2020, ou seja, o continental Brasil é um país de renda per capita média. O PIB per capita é o PIB total dividido pela população total de um país. A renda per capita é muito mais alta em países classificados livres, acima de 80 pontos, como Singapura (US$ 97.057 PPC e 84,4 pontos) e Suíça (US$ 72.874 PPC e 84,2 pontos), de acordo com a Heritage Foundation.
No livro intitulado Reconstrução: o Brasil nos anos 20, os organizadores Felipe Salto, João Villaverde e Laura Karpuska analisam os números da renda per capita brasileira nos últimos 40 anos. Eles apontam que entre 1980 e 2020, o PIB per capita do emergente Brasil acumulou uma alta de apenas 24% e o país sul-americano entrou na chamada armadilha da renda média nas últimas quatro décadas.
Em plena Quarta Revolução Industrial os jovens precisam estudar mais nas bibliotecas públicas e privadas em todo o País. É necessário ajudar os recém-formados a entrarem no mercado de trabalho competitivo e globalizado. Além disso, é fundamental oferecer mais cursos de capacitação e de qualificação profissional para os jovens brasileiros.
Conclui-se que o estado de Santa Catarina tem a menor taxa de jovens nem-nem no Brasil e o estado do Maranhão tem a maior concentração da geração nem-nem no País – Infelizmente, o Maranhão é o estado brasileiro com menor PIB per capita, com R$ 13.757 no ano de 2020 (IBGE). Diante de todo esse cenário nebuloso, é preciso mais investimentos públicos e privados na educação de qualidade, além de mais oportunidades de trabalho, para mudar significativamente uma triste realidade brasileira, um em cada quatro jovens nem estuda e nem trabalha no Brasil.
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OPINIÃO - 22/11/2024