João Pessoa, 01 de março de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Março! O importante não é mais ser fevereiro, embora hoje seja a terça-feira gorda do carnaval.
De supetão, uma tristeza: no último dia de fevereiro, a morte de Maria Carmen, a mãe da bailarina Thatiana Rangel, (foto) que faria 70 anos hoje, 1º de março. As águas chegaram antes no rosto da família.
Imagina você preparar a festa, para comemorar o aniversário da mãe e ela não espera, adormeceu um dia antes de seu nascimento e não acordou. As pessoas dizem – a melhor morte. A morte só quer uma desculpa.
19h. A Avenida Epitácio Pessoa estava deserta, aqui, ali, um ônibus quase vazio, com vidas desconhecidas. É triste perder pai e mãe, filhos, irmãos e amigos. Como diz um amigo do Bairro dos Estados – amanhã seremos nós.
Ninguém furou o sinal, apenas três carros circulavam na avenida. Fui abraçar a bailarina e os dois filhos, fui levar minha voz, mesmo sabendo que encontraria ali uma família em prantos.
Sai de lá com a alegria de outras águas, as que limpam os olhos da gente da minha terra, o sertão, onde “chove” de imagens da transposição e as pessoas choram de alegria.
Às vezes de tanto chorar, sorrimos no mesmo instante, mas o próximo instante é desconhecido.
Acho que não voltarei mais ao sertão, a cidade de Jatobá, que está vendo o sertão virar mar, um mar de água doce, sem ondas, para enxugar lágrimas “secas” centenárias, as águas do São Francisco.
Outro dia na beira mar vi uma cadela caramelo a cara de Baleia, de Graciliano Ramos, bebendo água de chuva. Perguntei o nome dela, e a dona disse:” Frida”. Apressei o passo e esqueci a cena, afinal, a Baleia de “Vidas Secas”, nunca poderia se chamar Frida.
As adaptações e o modo com que o mundo segue a resposta das águas que destroem cidades brasileiras, que tirou o foco diante da crueldade da guerra da Rússia contra a Ucrânia, tem nos tornando espectadores impotentes, até diante da solidariedade. Afinal, ninguém vive só solidariedade, igual dinheiro, que é um pedaço de papel.
Somos ínfimos no suportar das perdas, cuja dor se rasga a boca, um grito calado, e tudo vai ficando oco e as pedras não se encontram mais.
Perder pai e mãe não é fácil. Eu sei.
Tente nos surpreender, Thatiana. A dança é a sua vida. E quando chover novamente, vamos dançar na chuva, que ajuda a gente se vê.
Kapetadas
1 – Ocupo-me dos sentimentos, do amor.
2 – As velas choram. As velas não existem mais.
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OPINIÃO - 22/11/2024