João Pessoa, 08 de março de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Nem combina tristeza com Maria Isabel. Nem coisas do fim. Combina firmeza. Desafio. Posição de luta. Luto, logo agora que tudo iria começar? Mistérios.
Não eram só os de Maria Isabel. Havia mistérios por demais circulando nos corredores do Centro de Ciências Médicas. Cada semestre chegam 65 desconhecidos. De todos os lugares. De tantos lugares. Aos poucos nos aproximamos. A resposta à chamada já nos diz. Um austero. Outro calmo. Atrasado. Brincador.
Carregam segredos e sonhos. Dúvidas. Contradições. Desejo de salvar a humanidade, enquanto esquecem de salvar a si mesmos. Um único ser. Muitas vezes tão sozinho.
Não sei quantos verdadeiros. Nem quantos enganos. Porque também não sei o que é engano em mim, nem o que traduz minha verdade. Também não sei se a tenho.
Assim era Maria: cabelos longos entrelaçados. Soltos, como a anunciar seu desejo pleno de liberdade. Na pele, a cor do encanto. Da negritude. Não me parecia sozinha e cantarolava liberdade. Não era somente uma estudante de medicina. Uma intensa defensora de direitos. Dos negros. Dos LGBTs. Do SUS. Das minorias.
Havia uma mulher negra com suas bandeiras.
Para você, Maria Izabel, deixo um pequenino poema que roubei do meu Quintana de bolso, em que faz uma suposta inscrição para o cemitério perdido (onde você, com seu imenso sorriso, nunca me pareceu caber), que eu lhe ofereço, na esperança de que fique inscrita em sua imensa estrela sem fim.
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce – uma estrela,
Quando se morre – uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio…
E a luz da estrela no fim!”
A luz da estrela no fim.
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TURISMO - 19/12/2024