João Pessoa, 09 de março de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
“Às vezes, quase sempre, um livro é maior do que a gente”, diz Guimarães Rosa, num dos prefácios de Tutameia. Um livro, que é mundo vasto. Um mundo mais vasto que o mundo de meu coração. Um mundo sem porteiras, aberto para os múltiplos horizontes, possíveis e impossíveis.
Um livro é um livro é um livro é um livro, glosemos Gertrud Stein! (foto)
Alberto Manguel entende o livro como um mundo onde se procura refúgio; Jorge Luís Borges fala de um livro-universo e do universo, como uma biblioteca, e Michel de Montaigne, por sua vez, não viaja sem livros, nem na paz nem na guerra.
Mundo de conhecimentos, território imaginário, artefato sensível, objeto imaterial, bem simbólico, tecnologia perfeita, acervo lúdico e peça de sabores, entre tantas categorias semânticas, um livro é, sim, muito maior do que a gente.
Maior na duração, considerada a lógica do tempo psicológico e emocional. Maior na possibilidade de diálogo que suas páginas estabelecem com o toque difuso e anônimo de todos os leitores. Maior pelas tramas que carrega e pelas imagens que sugere, dependendo, é óbvio, da natureza literária do gênero discursivo. Maior na dialética renovada dos saberes que propõe e maior no fluxo da imaginação e da sensibilidade retemperadas a cada movimento de leitura.
Um livro é um mundo, um vasto mundo!
Nele posso encontrar refúgios e segredos; palavras ásperas, palavras lúridas, palavras únicas. É possível, também, que, por entre as linhas de seus modelos tipográficos, eu toque a seda iluminada de uma estrela perdida no céu da página e sinta, entre os vazios do claro-escuro do papel, a velocidade vestida de luz da vida reinventada, principalmente se as linhas forem versos, versos fluidos, cálidos, cecilianos…
Deve haver, num livro, a beleza dos contrastes abissais demarcando caminhos para regiões esquecidas e geografias imaginadas. Se não contém o absoluto da verdade, com seus paradoxos intangíveis, preserva, nos seus variados capítulos, alguma centelha pela qual se pode apalpar o tecido indissolúvel da vida. Não, Disraeli: um livro pode ser mais importante do que uma batalha. Razão possui Rufus Choate, quando assegura que o livro “é a única imortalidade”.
Eu mesmo não consigo conceber o mundo sem os livros. Alguém já disse que uma casa sem livros é o mesmo que um corpo sem alma. Não importa se estéticos; não importa se literários; não importa se científicos; não importa se filosóficos. Todos têm vida própria e dão guarida a mundos preciosos, tesouros escondidos, paraísos a serem habitados.
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OPINIÃO - 22/11/2024