João Pessoa, 10 de março de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
As histórias dos homens são tão escalafobéticas que às vezes eu tenho receio de contá-las aqui. Não é questão de aprumo ético, mas é que são fatos tão cabeludos que a gente custa um pouquinho em acreditar. Eu disse um “pouquinho” para que possa granjear a confiança do distinto leitor e zelosa leitora, embora tenha plena consciência de sua total inverosimilhança. Sabedor da curiosidade de vocês, achei por bem compartilhar o estranho ocorrido.
O patriarcado (palavra muita em voga nos dias atuais) forjou homens de pouco ou nenhum caráter, sem temor às Leis de Deus, sobretudo o nono mandamento: não cobiçar a mulher do próximo. E aí a convivência entre os seres humanos virou um verdadeiro samba do parangolé, da conversa mole, da manemolência e de infindos olhares lascivos; dos cutucados com os pés embaixo da mesa em encontros sociais até a modernosa utilização das mídias digitais para fins libidinosos e tudo o mais que o empedernido conquistador lançar mão.
Cada um de nós conhece algum homem – seja colega de trabalho, vizinho ou mesmo parente -, que admira, deseja ou tem fascinação pela mulher do amigo. Aquele que na presença da majestosa se derrama em obsequiosidade, elogios excessivos e até convites indiscretos e inoportunos.
Muito bem. O jornalista gaúcho Tarso de Castro (1941-1991), que teve marcante atuação na imprensa brasileira nos anos 1960 até 1980, nos conta que um amigo convidou outro para beber em um bar e após alguns chopes revelou que sabia da atração que o distinto tinha por sua mulher, pois não dava mais para disfarçar e que por gostar demais dele queria muito realizar o seu desejo, ou seja, permitiria que sua mulher transasse com ele. O amigo ficou perplexo, sem saber o que dizer, mas diante da insistência do marido e da possibilidade de ter em seus braços a mulher cobiçada, aceitou a proposta num misto de encabulamento e alegria.
– Taí, pegue a chave do meu apartamento. Ela está lá na cama. Fico esperando aqui no bar.
Uma hora depois o amigo retorna ao bar e decepcionado diz ao marido:
– Estranho. Cheguei e abracei-a, beijei sua boca e ela estava fria, gelada até, sem nenhuma reação. Permaneceu deitada, imóvel. Não deu para transar desse jeito.
E o marido, após sorver um gole de chope e cofiar a barba, retrucou:
– Claro, amigo. Minha mulher faleceu há duas horas de infarte.
Pois é, às vezes é uma fria desejar a mulher do próximo.
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OPINIÃO - 22/11/2024