João Pessoa, 15 de março de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Há muitos anos, quando li o poema “No Caminho Com Maiakóvski” (1968) do brasileiro Eduardo Alves da Costa, muito citado por integrantes da resistência ao regime militar, o poema foi atribuído ao poeta russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930). Isso não é um spoiler, é uma informação.
Li, releio e continuarei pensando “No Caminho Com Maiakóvski”.
É um pouco assim, a vida de cada um.
Quando eu era pequeno, minha mãe dizia que brasileiro só fecha a porta quando o ladrão vai embora. No meu caso, foi às claras, na calçada. Chico Buarque nos ensinou que é melhor chamar o ladrão, mas aí, é uma saída política do compositor.
Contando ninguém acredita. A semana passada, amanheceu aquele vermelhão no céu e não tinha água aqui em casa. Só da caixa.
Navegando em pensamentos, vou caminhar, volto, tomo café e começo a trabalhar.
Indiferente às distorções do tempo, escrevo textos, notícias, postagens, entrevistas e trabalho até a noite. Minha mulher passa e diz: “Puxa vida, ainda não chegou água!” Qual é a novidade, meu bem?
Em volta disso, da agonia generalizada, a alienação geral nas cidades e nada se sobressai nesses tempos cruéis, faltar água virou rotina, além de que a água está custando os olhos da cara.
Peço a Alexa para tocar Jobim e ela dispara: “Samba de Verão”. É pau, é pedra.
Já eram 14h, quando a nossa funcionária Iara veio avisar que haviam roubado o hidrômetro. Como assim? “Venha ver seu Kubitschek! Roubaram o hidrômetro? E existe isso?
Contando ninguém acredita. Fui orientado a fazer um BO e mandar para um zap robô da Cagepa juntamente com a conta paga. Caos total
Fiz questão de ir à delegacia, não quis fazer o BO online. Uma senhora fez o boletim de ocorrência, me entregou e passamos parte da tarte tentando conversar com o zap/robô.
Bom, já era noite quando os rapazes chegaram para colocar um novo hidrômetro.
A primeira coisa que veio à cabeça foi: estamos lascados. Não lembrei de Maiakóvski, mas ao deitar para dormir, reli o poema.
“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”.
Estamos cercados – no primeiro dia roubam nosso hidrômetro e nos deixam sem água, no segundo dia, roubam o medidor da energia e ficamos no escuro e depois o gás e eles nos matam.
É terrível isso, viver numa cidade em que os bandidos triplicaram e agora roubam até hidrômetros…
Onde estávamos?
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Contando todos acreditam
A morte da estudante de medicina aqui em João Pessoa, é por demais cruel, para eu não me abalar. Duas pessoas se encontram e o cara mata a garota. Parece que somos campeões em matar mulheres. Onde estamos?
Kapetadas
1 – Bolo gelado com gosto de pimentão com cebola, uma tecnologia que só o tupperware mal lavado pode oferecer.
2 – A gasolina está tão cara que estou quase blindando o tanque.
3 – Som na caixa: “Muita gente me pergunta/Se essa estória aconteceu/Aconteceu minha gente/Quem está contando sou eu”, Gilberto Gil
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OPINIÃO - 22/11/2024