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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Contando ninguém acredita

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publicado em 15/03/2022 às 07h36
atualizado em 15/03/2022 às 06h56

Há muitos anos, quando li o poema “No Caminho Com Maiakóvski” (1968) do brasileiro Eduardo Alves da Costa, muito citado por integrantes da resistência ao regime militar, o poema foi atribuído ao poeta russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930). Isso não é um spoiler, é uma informação.

Li, releio e continuarei pensando “No Caminho Com Maiakóvski”.

É um pouco assim, a vida de cada um.

Quando eu era pequeno, minha mãe dizia que brasileiro só fecha a porta quando o ladrão vai embora. No meu caso, foi às claras, na calçada. Chico Buarque nos ensinou que é melhor chamar o ladrão, mas aí, é uma saída política do compositor.

Contando ninguém acredita. A semana passada, amanheceu aquele vermelhão no céu e não tinha água aqui em casa. Só da caixa.

Navegando em pensamentos, vou caminhar, volto, tomo café e começo a trabalhar.

Indiferente às distorções do tempo, escrevo textos, notícias, postagens, entrevistas e trabalho até a noite. Minha mulher passa e diz: “Puxa vida, ainda não chegou água!” Qual é a novidade, meu bem?

Em volta disso, da agonia generalizada, a alienação geral nas cidades e nada se sobressai nesses tempos cruéis, faltar água virou rotina, além de que a água está custando os olhos da cara.

Peço a Alexa para tocar Jobim e ela dispara: “Samba de Verão”.  É pau, é pedra.

Já eram 14h, quando a nossa funcionária Iara veio avisar que haviam roubado o hidrômetro. Como assim? “Venha ver seu Kubitschek! Roubaram o hidrômetro? E existe isso?

Contando ninguém acredita. Fui orientado a fazer um BO e mandar para um zap robô da Cagepa juntamente com a conta paga. Caos total

Fiz questão de ir à delegacia, não quis fazer o BO online. Uma senhora fez o boletim de ocorrência, me entregou e passamos parte da tarte tentando conversar com o zap/robô.

Bom, já era noite quando os rapazes chegaram para colocar um novo hidrômetro.

A primeira coisa que veio à cabeça foi: estamos lascados. Não lembrei de Maiakóvski, mas ao deitar para dormir, reli o poema.

“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”.

Estamos cercados – no primeiro dia roubam nosso hidrômetro e nos deixam sem água, no segundo dia, roubam o medidor da energia e ficamos no escuro e depois o gás e eles nos matam.

É terrível isso, viver numa cidade em que os bandidos triplicaram e agora roubam até hidrômetros…

Onde estávamos?

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Contando todos acreditam

A morte da estudante de medicina aqui em João Pessoa, é por demais cruel, para eu não me abalar. Duas pessoas se encontram e o cara mata a garota. Parece que somos campeões em matar mulheres.  Onde estamos?

Kapetadas

 

1 – Bolo gelado com gosto de pimentão com cebola, uma tecnologia que só o tupperware mal lavado pode oferecer.

2 – A gasolina está tão cara que estou quase blindando o tanque.

3 – Som na caixa: “Muita gente me pergunta/Se essa estória aconteceu/Aconteceu minha gente/Quem está contando sou eu”, Gilberto Gil

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB