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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Basta de retroceder

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publicado em 19/03/2022 às 08h59
atualizado em 19/03/2022 às 06h20

Isso mesmo. Basta de incertezas, de nos entregarmos de olhos bem fechados para as coisas de maior facilidade, igual ao ritual repetido dos galos do asfalto, que competem pelo título do melhor canto, daquele que faz nascer o dia, e que são invisíveis ou imaginários. Delírio, né?

Outro dia vi uma galinha de angola, era da vizinha, ciscando entre terreiros de outrora, certamente, como guia de outros tambores, mostrando ser capaz de antecipar todos os movimentos do chocalho. Bobagem, uma galinha é só uma galinha.

Nada melhor que o astro rei, que nasce no mar, mas não gosto quando ele morre lá no centro da cidade abandonada. Fico sempre com a sensação do sol vermelho, a contemplar a luzidia manhã, em que o galo já não me acorda mais.

Sonhadores nunca são definitivos, já os sonhos…

Do outro lado do mundo, há espaços para trocar coordenadas e discutir os assuntos que ainda captamos no ar. Chega de atraso! Chega de guerra! Chega de feminicidio! Nada de retroceder. Ainda bem que a alma não tem cor, né Chico César?

Chega dessa cretinice toda emproada em tom sapiencial. Já que somos guiados pelo sol, o sol na moleira, vamos em frente, para não nos sabermos desesperadamente perdidos.

Sim, já perdemos os abraços, nos perdemos dos braços dos amigos, nas urnas, no balão mágico, no amarelo, verde e vermelho.

Se eu tivesse dinheiro, moraria em Lisboa: queria conhecer novas raparigas, tomar todos os vinhos que eu não gosto, andaria pelos mouros, fados, pelas ruas, livrarias, no resto dos dias da minha vida.

Outro dia ouvi uma canção no rádio em que o compositor baiano dizia, tudo é divino, é maravilhoso. Tempo bom. Agora é “Meu Coco” –  Simone e Raimunda, disparou as Luanas, A palavra bunda é o Português dos Brasis, As Janaínas todas foi Leila Diniz, Os nomes dizem mais do que cada uma diz”. Caetano é foda. Supimpa a manifestação pela Terra em Brasília. Terra, terra!

Daqui em diante nossos passos terão de ser largos horizontes, a buscar novidades, pois, apesar da Covid 19 está batendo em retirada, é preciso continuar atento e forte.

Festejar? Já, já. Quero saber onde raio se perdeu a noite dos meus 20 e poucos anos, as noites quentes de amor, as noites das cadeiras, meu pai, minha mãe, e tudo que aprendi nos discos.

O metabolismo das abordagens e conversas no avarandado do K, o papo de Marcelo Câmara e o jazz que ouvíamos até tarde, que se impôs de tal modo que convenceu toda minha paixão pelo samba, mas sem samba não dá, né?

De um lado está quem manja, de outro quem manda. Manda em quê?  Estão mantidas bem fortes as culturas do tempero, do acarajé, da tapioca, que ainda passam pelas nossas narinas. Eu sou um sujeito banal.

Como eu gosto de “Navio Negreiros” de Castro Alves – “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura… se é verdade/Tanto horror perante os céus…”

Por isso mesmo, tão difíceis de engolir hipotéticos, precisamos forrar o estômago. Bom apetite! E nada de retroceder.

Kapetadas

1 – O jeito é continuar usando máscara pra continuar fingindo sorrir para pessoas fora do baralho.

2 – A cortina de fumaça dura até a ida ao posto de gasolina. Pow!

3 – Som na caixa:” Eu quero me esconder debaixo dessa sua saia, pra fugir do mundo”, Martinho da Vila

4 – Ilustração da coluna –  Desenho registra o interior de um navio negreiro.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB