João Pessoa, 13 de julho de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A americana ‘Jane’ (ela não revela a verdadeira identidade por motivos de segurança) poderia passar incólume entre as mais de 800 mil mulheres que, todo ano, buscam clínicas de aborto nos Estados Unidos para interromper uma gravidez indesejada. No entanto, Jane ganhou fama repentina nas redes sociais ao postar fotos do resultado do próprio procedimento a que se submeteu, embalada por um misto de curiosidade e protesto.
Sem o conhecimento da clínica, a americana registrou, através de seu celular, imagens do aborto de seu bebê, então com seis semanas. "Quando entrei no hospital, manifestantes contra o aborto aglomeravam-se na entrada segurando cartazes de fetos mortos. Aquelas imagens grotescas me chocaram de tal maneira que eu me senti pessoalmente agredida, triste e violada", disse ela à BBC Brasil.
"Então, enquanto esperava pela minha vez, eu comecei a pensar na aparência do meu aborto. Foi então que decidi tirar as fotos", acrescentou. Para sua surpresa, conta Jane, as imagens não eram semelhantes às dos cartazes dos manifestantes.
Com o propósito de mostrar às mulheres uma nova "perspectiva" sobre o aborto, ela decidiu, logo em seguida, montar uma página na internet na qual postou as fotos. "Espero que isso sirva de contribuição para uma maior educação sobre o aborto. Acredito que as pessoas têm o direito de receberam a educação e informação adequadas", afirmou.
Repercussão
Em menos de 48 horas, Jane recebeu milhares de comentários, de vários lugares do mundo, apoiando sua decisão. Uma "pequena parcela", entretanto, disse ela, criticou a divulgação das fotos, alegando que "uma vida em potencial foi tirada".
"Ainda que não concorde com isso (o protesto contra o aborto), as críticas também fazem parte do diálogo. Mas, no geral, fiquei surpresa com a quantidade de homens e mulheres que escreveram sobre suas histórias pessoais, contando suas vidas, experiências médicas e opiniões", afirmou. "São histórias de pessoas de todo os lugares do mundo, de diferentes idades e classes sociais. Nunca poderia imaginar que havia tanta gente partilhando uma mesma experiência (o aborto) e que viveu em completo isolamento. Tudo isso é verdadeiramente gratificante", acrescentou.
Jane também contou que recebeu total apoio do pai da criança e de sua mãe, quem já havia abortado um bebê na década de 1970, quando a polêmica nos Estados Unidos era muito maior. "Decidi não ter um bebê porque simplesmente não estava preparada para ser mãe. Desde o início, já estava certa de que não queria levar adiante a gravidez, porque sabia que não poderia dar a meu filho o que ele mereceria. Infelizmente, não havia outra opção", contou ela à BBC Brasil.
"O pai da criança sabia da gravidez e me apoiou do início ao fim. Ele é um homem incrível, um amigo leal, e acredita que é direito da mulher escolher o que é melhor para seu corpo e sua vida", disse. "Já minha mãe também me deu o suporte necessário. Ela ficou feliz de que eu teria acesso a uma infraestrutura hospital segura e limpa, além de ser tratada por especialistas", acrescentou.
Debate
Segundo Jane, seu objetivo, a partir de agora, foi abrir um espaço para a discussão de ideias sobre um tema polêmico. "No fundo, esse projeto não é sobre mim. Trata-se de uma comunidade muito maior de mulheres que viveram as mesmas experiências e hoje podem dividir uma mesma estória", concluiu.
Desde 1973, o aborto é legalizado em todos os 50 estados americanos, mas continua dividindo opiniões. Uma pesquisa da consultoria Gallup, feita em maio do ano passado, apontou que 49% dos americanos era a favor da "escolha" das mulheres, enquanto 46% se mantinham contra a prática.
Terra
OPINIÃO - 26/11/2024