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sérgio lucena

Paraibano integra o time da Mostra “Modernismo Desde Aqui”

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publicado em 04/04/2022 ás 11h14
atualizado em 04/04/2022 ás 13h25

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos – Marcio Fischer

O artista paraibano Sérgio Lucena, um dos melhores do país, representa a Paraíba na Mostra “Modernismo Desde Aquii”, projeto criado pelo Governo de São Paulo para celebrar o centenário da Semana de 1922. A Semana de Arte Moderna de 1922 nos remete para uma mudança de paradigmas na cultura brasileira. O evento na época  rompeu as fronteiras entre o popular e o erudito, promovendo a liberdade ética e estética na produção artística. O Paço das Artes – instituição pertencente à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, faz essa revisitação a contribuição do movimento modernista com a exposição Modernismo desde aqui.

Com curadoria de Claudinei Roberto da Silva, a exposição reúne 68 obras que evocam um dos principais aspectos do movimento modernista. Nas palavras do curador, “a leitura descolonizante da cultura e das artes do Brasil”. Uma figura central da época, Mário de Andrade também terá seu espaço garantido, a partir de documentos e fotografias presentes na mostra.
“Em maio de 1935, Mário de Andrade foi nomeado simultaneamente Chefe da Divisão de Expansão Cultural e Diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo, o que lhe permitiu, entre outras coisas, organizar a ‘Missão de Pesquisas Folclóricas’, que, em 1938, colheu importantes documentos sobre a cultura dos estados do Nordeste e do Norte do país”, destaca o curador.
Modernismo desde aqui tem um núcleo de artefatos, documentos e obras do acervo da Missão de Pesquisas Folclóricas de 1938, mantido pela Biblioteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural São Paulo.

Núcleo histórico

No núcleo histórico, o público vai conferir as obras “Paisagem” (1948), de Tarsila do Amaral; “Trabalhadores” (1937), de Livio Abramo; “O bom caminho” (1920), de Ismael Nery; e os desenhos “Jovem negro de mãos dadas” (1925), “Zulmira” (1925) e “Jovem negro com gravata borboleta” (1927), de Lasar Segall, além da aquarela Mãe negra entre casas (1930), também de sua autoria. Os trabalhos de Lasar e Tarsila foram cedidos pelo Museu Lasar Segall e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, respectivamente.

No núcleo expositivo denominado contemporâneo, estão pinturas no estilo naif, de Nilda Neves, peças em madeira de Taygoara Schiavinoto, gravuras em papel de Santídio Pereira, xilogravuras em papel de Eduardo Ver, pinturas de André Ricardo e uma escultura de Eneida Sanches.
Fotografias de Wagner Celestino, escultura de Maurino Araújo, pinturas em acrílico de Sérgio Lucena, obra com tinta óleo e látex de Mari Ra e trabalhos em óleo sobre tela de Marcio Mariano e Manuel Carvalho completam a lista dos artistas contemporâneos da mostra.

Se você está indo a São Paulo, não deixe der conferir essa gigantesca mostra, que ficará em cartaz até 7 de Julho.

A obra em preto e branco  – “Tapir 2005, série Deuses,” acrílico sobre cartão, 70×102 cm, a a outra “Carneiro Caramujo, série Deuses”  2006 • Acrilica sobre cartão Fabrianno • 80 x 120 cm 4 /18,

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O MaisPB conversou com o pintor Sérgio Lucena que nos contou da alegria de nos representar e faz aqui uma explanação sobre sua participação no Modernismo Hoje.

MaisPB –  Como aconteceu o convite para participar  desse grandioso evento “Modernismo desde aqui”?
Sérgio Lucena – O convite partiu do curador Claudinei Roberto que, já de alguns anos, acompanha de perto o meu trabalho e com quem tenho uma importante interlocução.

MaisPB – A mostra teve início sábado passado (2) e reúne os artistas André Ricardo, Eduardo Ver, Eneida Sanches, Ismael Nery, Lasar Segall, Livio Abramo, Manuel Carvalho, Marcio Marianno, Mari Ra, Maurino Araújo, Nilda Neves, Santidio Pereira, Tarsila do Amaral, Taygoara Schiavinoto e Wagner Celestino. Você conhece alguns?
Sérgio Lucena – Além do Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Ismael Nery, ícones do Modernismo no Brasil, e o Livio Abramo que compõem o núcleo referencial da exposição, conheço e me relaciono com alguns dos artistas participantes. A exemplo do André Ricardo, uma revelação na pintura brasileira contemporânea, o Eduardo Ver juntamente com o Santidio Pereira, dois jovens mestres da xilogravura e a Nilda Neves, um fenômeno da natureza.

MaisPB – Claro que a Semana de Arte Moderna de 1922 representa algo bem maior, tanto que  nunca deixamos de falar nessa mudança na arte. Como você vê a Semana cem anos depois?
Sérgio Lucena – Essa mostra propõe repensar o conceito de modernismo a partir de uma vertente extremamente original e, desde sempre, presente na produção cultural brasileira mas, até então excluída em razão da postura subserviente e colonizada da sociedade brasileira. Cem anos depois já não cabe essa condição subalterna que precisa da chancela dos cânones europeus e norte americanos, no que tange aos valores estéticos, para referendar o que venha a ser arte. Existe uma expressão de origem que tem um vocabulário próprio e que fundamenta nossa identidade cultural, é disso o que trata essa mostra; do léxico da nossa alma.

MaisPB – O evento tem curadoria de Claudinei Roberto da Silva e  exposição tem como foco um dos principais aspectos do movimento modernista. Nas palavras do curador, “a leitura descolonizante da cultura e das artes do Brasil”. Vamos falar sobre isso?
Sérgio Lucena – Na verdade o foco é desconstruir um dos principais aspectos do movimento modernista com vistas a ressignificá-lo. Se o Antropofagismo regia, enquanto conceito, o movimento, contraditoriamente, em termos estéticos, os artistas do movimento pagavam tributo aos valores canonizados pela estética europeia. Chico Science, por exemplo, diz de um novo entendimento do Antropofagismo. Algo que se apropria das influências externas no intuito de potencializar nossa expressão de origem.  Naturalmente que esse revisionismo não tem um caráter revanchista. Sabemos que o Movimento de 22 foi protagonizado pela elite econômica e cultural do sudeste do Brasil, portanto, considerando o contexto social da época, o movimento foi aquilo o que podia ser e que, na minha opinião, foi de extrema importância. Mário de Andrade, nesse contexto, é o precursor e o patrono dessa nova leitura da semana de 22 promovida pelo Claudinei Roberto.

MaisPB – Qual trabalho você vai apresentar?

Sérgio Lucena – O Claudinei selecionou um recorte da  série Deuses, as pinturas de animais sagrados, que produzi entre 2003 e 2007.

MaisPB – Na verdade, a exposição faz parte do programa Modernismo Hoje, criado pelo Governo de São Paulo para celebrar o centenário da Semana de 1922. Como você avalia essa iniciativa?
Sérgio Lucena – Uma iniciativa absolutamente esperada, afinal foi aqui que se deu o evento que tirou São Paulo da condição de um Estado sem maior importância no cenário cultural, levando-o a assumir o protagonismo das grandes mudanças vividas pelo país no século 20.  Esse é o simbolismo por trás da Semana de 22.

MaisPB – O que anda fazendo no final dessa pandemia?
Sérgio Lucena – O mesmo que fiz no durante a pandemia; trabalhando.

MaisPB– Alguma exposição à vista?
Sérgio Lucena – Sim, em Julho vou estar expondo em um dos mais importantes museus de São Paulo, não posso dar detalhes em razão do contrato de confidencialidade. Em Agosto tenho uma individual, também em São Paulo com a galeria que hoje me representa no Brasil, a Simões de Assis. Essa será a minha segunda individual com eles, a primeira foi em 2021 na matriz em Curitiba, que inaugurou a representação.

Serviço 

Data: 02/04 a 03/07

Visitas: de terça a sábado, das 11h às 19h, domingos e feriados, das 12h às 18h

Local: Paço das Artes – R. Albuquerque Lins, 1345 – Higienópolis

Ingresso: gratuito

A exposição conta com recursos de acessibilidade