João Pessoa, 05 de abril de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Imaginei um livro voando. Movimentando-se, silenciosamente, entre nuvens e pássaros. “Cavalgando em martelo agalopado e viajando com loucos pensamentos”. Isso, Zé! Um livro de rima, sextilhas, de notas dedilhadas. Crônicas.
Imaginei um livro de folhas verdes. Falando de secas e folhas envelhecidas, que dizem mais do sertão onde vivi. De cavalos alasões e bois mandingueiros. Um livro de sorte. De quem encontrou caminhos nas asperezas de montes e vales da caatinga.
Um livro contando histórias de trancoso, dessas que não têm fim. Não tem amarras nem narrador. Histórias de escravos explorados pelo Senhor. Ou aventuras de coronéis. De um nordeste dominado e sem crescimento. Escrito em “Dez pez”.
Contando histórias de monumento, jumento, carão, azulão, galos de campina. Histórias de meninas virando mulher. De homens que se transformam por matar. Mas que trouxesse, por oportuno, a civilização e o respeito a esse lugar. Um livro de Sertão e mar.
Mais que tudo, um livro de muita esperança. Foi assim que imaginei. Um livro transitando entre cores e sabores. Com direito ao pecado e à adoração. Ao real, em sua forma mais crua, e a mais pura ilusão. Um livro de gente. De mim, de você, dos nossos antecedentes. Um livro frio e ardente. Doce como o mel da cana, e o amargor da gitirana.
Eu imaginei um livro cheio de cores. Embaralhadas. Um livro de dureza. De fogo e de natureza. Um livro de chuvas e trovões. Livro de medos. Contados nas sombras, nas aparições e historinhas de fantasmas. Um livro da minha cor, que, ao lê-lo, o leitor tivesse a ilusão de fitar o céu e contar estrelas. Um livro azul.
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