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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Meu caro amigo,

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publicado em 19/04/2022 ás 07h00
atualizado em 19/04/2022 ás 18h54

me ligava sempre, com ou cem novidades. tenho problemas com sequências. coisas que começam, se desenvolvem e morrem antes de terminar. Uma amizade sincera, já é um pouco de saúde.

tenho um amigo que está perdendo a voz – não que ele diga coisa sem nexo, mas coisas que são causas de consequências desconhecidas. meu amigo sabe muito de música, cinema e literatura. há anos somos amigos.

ele foi a meu casamento. parece que já está longe do mundo. conclusões? e por quê? porque não conheço nada assim, nem na mais intensa e luminosa – ou obscura – imaginação.

meu  caro amigo não irá mais a shows, nem a banca de revistas comprar jornais. Ele que tanto adorava ir ao Recife, procurava sombra na rua Rosa e Silva, em Espinheiros. sim, cantávamos “com a rosa no cabelo e esse andar de moça prosa”.

ele está perdendo a voz. passa um tempo para formar uma frase. ele fez muito por mim, um bem-querer mais na vida. sagaz. quando eu começava a falar de tal coisa, ele já sabia.

coisas da vida, que trai muito a gente. coisas do sonho e mais ainda no sonho, o tempo se espreme, se alastra, se comprime e se propaga. mas não segue em linha reta.

faz um tempo que não escuto mais a sua voz ao telefone, que ligava ansioso para falar comigo, mas acho que ainda lembra de mim. talvez, sim.

nada continua como começou, nem mesmo começa antes de terminar. aliás, meu amigo sabia que nada terminava. gostava de mim como se fosse da família.

não se pode, pelas consequências, determinar a causa da perda da sua voz, uma necessidade tão básica, que se argumenta, de acordo com as necessidades, desejos, medos e uma memória falha e que só faz, quanto mais o tempo passa, ficar na brisa da juventude daquela canção.

meu amigo não puxava a brasa para sua sardinha, ele era amplo, mais que a brasa e a sardinha.

“meu caro, você está bem?” indagava ele. meu amigo, se eu pudesse daria voz de comando, faria transcorrer, mudar, mover-se. eu não queria que meu amigo fique mudo…

Kapetadas

1 – Deixo-me observar pelos olhos dos que me veem.

2 – Tenho dito sempre que gosto do recôndito, mas tenho medo do próximo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB